Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 18 de junho de 2017

Hélder Macedo - Sem Outra Pátria

Como poeta português nascido na África do Sul e radicado, por longo tempo, em Londres – onde foi professor de Literatura Portuguesa no King’s College –, Macedo acaba por sentir certo alheamento em relação àquilo que o circunda, quando distante se encontra dos influxos de uma pátria com a qual, males dos males, parece não se identificar.

Mas percebe que dá proveito a uma vida nova, à fecundação de um corpo, a cada vez que retém as águas que delimitam o que quer que seja uma pátria: sem elas, a solidão lhe assola e reconhece-se como não mais que um afluente seco de um lago deteriorado.

J.A.R. – H.C.

Hélder Macedo
(n. 1935)

Sem Outra Pátria

Não por amor nem por dever
me obrigo
mas pela germinal fúria obscura
de só querer-me igual
à vida construída à imagem que não sou
e não serei.

Cada vida é um corpo a fecundar
como uma pátria,
um lago bloqueado
que em suas margens faz prever
o rio
e o seu mar.

Sem outra pátria perto me construo
ausente
e me reúno no perdido influxo
onde me encontro só
um rio seco
do lago apodrecido.

(De: Poesia 1957-1977, 1979)

Kerhorl, a Baía, Estuário do Rio Landerneau
(Eugène Boudin: pintor francês)

Referência:

MACEDO, Hélder. Sem outra pátria. In: MOURÃO-FERREIRA, David; SEIXO, Maria Alzira (Orgs.). Portugal: a terra e o homem. II Volume - 3ª Série. Lisboa, PT: Fundação Calouste Gulbenkian, 1981. p. 32.

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