O título deste poema diz tudo sobre o
que nele se passa: como um Prometeu, o poeta renuncia à soberania divina e,
como outros tantos deuses, orgulha-se de sua autoafirmação, materializada numa espécie
de rebelião contra todo e qualquer argumento de autoridade.
O discurso programático, dirigido a Zeus, dá-lhe ciência de que o seu domínio passará a sofrer um duro embate, haja vista
que uma nova geração de homens está por vir, orientada por um desejo de viver
livremente o quanto puder – a sofrer, chorar, gozar e se alegrar –, mas, antes
de tudo, a não mais respeitar os deuses do Olimpo. Como o próprio Goethe, um titã do intelecto humano!
J.A.R. – H.C.
J. W. Goethe
(1749-1832)
Pintura de Joseph
Karl Stieler
Prometheus
Bedecke deinen
Himmel, Zeus,
Mit Wolkendunst,
Und übe, dem Knaben
gleich,
Der Disteln köpft,
An Eichen dich und
Bergeshöhn;
Mußt mir meine Erde
Doch lassen stehn
Und meine Hütte, die
du nicht gebaut,
Und meinen Herd,
Um dessen Glut
Du mich beneidest.
Ich kenne nichts
Ärmeres
Unter der Sonn als
euch, Götter!
Ihr nähret kümmerlich
Von Opfersteuern
Und Gebetshauch
Eure Majestät
Und darbtet, wären
Nicht Kinder und
Bettler
Hoffnungsvolle Toren.
Da ich ein Kind war,
Nicht wußte, wo aus
noch ein,
Kehrt ich mein
verirrtes Auge
Zur Sonne, als wenn
drüber wär
Ein Ohr, zu hören
meine Klage,
Ein Herz wie meins,
Sich des Bedrängten
zu erbarmen.
Wer half mir
Wider der Titanen
Übermut?
Wer rettete vom Tode
mich,
Von Sklaverei?
Hast du nicht alles
selbst vollendet,
Heilig glühend Herz?
Und glühtest jung und
gut,
Betrogen,
Rettungsdank
Dem Schlafenden da
droben?
Ich dich ehren?
Wofür?
Hast du die Schmerzen
gelindert
Je des Beladenen?
Hast du die Tränen
gestillet
Je des Geängsteten?
Hat nicht mich zum
Manne geschmiedet
Die allmächtige Zeit
Und das ewige
Schicksal,
Meine Herrn und
deine?
Wähntest du etwa,
Ich sollte das Leben
hassen,
In Wüsten fliehen,
Weil nicht
alle Blütenträume
reiften?
Hier sitz ich, forme
Menschen
Nach meinem Bilde,
Ein Geschlecht, das
mir gleich sei,
Zu leiden, zu weinen,
Zu genießen und zu
freuen sich,
Und dein nicht zu
achten,
Wie ich!
Prometeu Carregando o
Fogo
(Jan Cossiers: pintor
flamengo)
Prometeu
Encobre o teu céu, ó
Zeus,
Com vapores de
nuvens,
E, qual menino que
decepa
A flor dos cardos,
Exercita-te em robles
e cristas de montes;
Mas a minha Terra
Hás-de-ma deixar,
E a minha cabana, que
não construíste,
E o meu lar,
Cujo braseiro
Me invejas.
Nada mais pobre
conheço
Sob o sol do que vós,
ó Deuses!
Mesquinhamente nutris
De tributos de sacrifícios
E hálitos de preces
A vossa majestade;
E morreríeis de fome,
se não fossem
Crianças e mendigos
Loucos cheios de
esperança.
Quando era menino e
não sabia
Pra onde havia de
virar-me,
Voltava os olhos
desgarrados
Para o sol, como se
lá houvesse
Ouvido pra o meu
queixume,
Coração como o meu
Que se compadecesse
da minha angústia.
Quem me ajudou
Contra a insolência
dos Titãs?
Quem me livrou da
morte,
Da escravidão?
Pois não foste tu que
tudo acabaste,
Meu coração em fogo
sagrado?
E jovem e bom – enganado
–
Ardias ao Deus que lá
no céu dormia
Tuas graças de
salvação?!
Eu venerar-te? E por
quê?
Suavizaste tu jamais
as dores
Do oprimido?
Enxugaste jamais as
lágrimas
Do angustiado?
Pois não me forjaram
Homem
O Tempo todo-poderoso
E o Destino eterno,
Meus senhores e teus?
Pensavas tu talvez
Que eu havia de odiar
a Vida
E fugir para os
desertos,
Lá porque nem todos
Os sonhos em flor
frutificaram?
Pois aqui estou!
Formo Homens
À minha imagem,
Uma estirpe que a mim
se assemelhe:
Para sofrer, para
chorar,
Para gozar e se
alegrar,
E pra não te
respeitar,
Como eu!
Em: “Ritmos Livre,
Odes, Hinos”
Referência:
GEOTHE, J. W. Prometheus / Prometeu.
Tradução de Paulo Quintela. In: __________. Poemas. Antologia, versão portuguesa,
notas e comentários de Paulo Quintela; 4. ed. Coimbra: Centelha – Promoção do
Livro, SARL, 1986. Em alemão: p. 22, 24 e 26; em português: p. 23, 25 e 27. (Poesia
/ Autores Universais – 1)
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