Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 14 de junho de 2017

Louise Glück - Mensageiros

A tratar do tema da mortalidade e do domínio humano sobre a natureza, a poetisa instila angústia neste seu poema de imagens facilmente evocáveis à mente, como realidade plausível ou, ainda, estados mentais ativados por um sonho.

Mas se, de fato, decorrente de um sonho, o seu fim terá sido um genuíno pesadelo: tudo termina numa cena apocalíptica, depois de um transcurso tão idílico, que em nada prenuncia a hecatombe na qual se sustenta a mensagem última trazida pelos nomeados mensageiros...

J.A.R. – H.C.

Louise Glück
(n. 1943)

Messengers

You have only to wait, they will find you.
The geese flying low over the marsh,
glittering in black water.
They find you.

And the deer –
how beautiful they are,
as though their bodies did not impede them.
Slowly they drift into the open
through bronze panels of sunlight.

Why would they stand so still
if they were not waiting?
Almost motionless, until their cages rust,
the shrubs shiver in the wind,
squat and leafless.

You have only to let it happen:
that cry – release, release – like the moon
wrenched out of earth and rising
full in its circle of arrows

until they come before you
like dead things, saddled with flesh,
and you above them, wounded and dominant.

O Animal Nobre
(Sir Edwin Henry Landseer: artista inglês)

Mensageiros

Você só tem que esperar, eles lhe encontrarão.
Os gansos que voam baixo sobre o charco,
brilhando na água escura,
haverão de lhe encontrar.

E os cervos:
que belos são,
como se seus corpos não os tolhessem.
Lentamente se movem rumo ao céu aberto
em meio a um cenário tisnado pela luz solar.

Por que ficariam assim, tão quietos,
se não estivessem à espera?
Quase imóveis, até que seus engradados embolorem,
os arbustos fremem ao vento,
vergados e sem folhas.

Você só precisa deixar que isso aconteça:
aquele grito – solte-se, solte-se – como a lua cheia
que se desprende da terra e ascende
em seu círculo dardejante,

até que eles lhe venham à presença
como coisas mortas, subjugadas pela carne,
e você sobre elas, ferido e dominante.

Referência:

GLÜCK, Louise. Messengers. In: McCLATCHY, J. D. (Ed.). The vintage book of contemporary ‎‎american poetry. 2nd ed. New York, NY: Vintage Books (A Division of ‎‎Random House Inc.), march 2003. p. 503-504.

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