A tratar do tema da mortalidade e do
domínio humano sobre a natureza, a poetisa instila angústia neste seu poema de
imagens facilmente evocáveis à mente, como realidade plausível ou, ainda,
estados mentais ativados por um sonho.
Mas se, de fato, decorrente de um
sonho, o seu fim terá sido um genuíno pesadelo: tudo termina numa cena
apocalíptica, depois de um transcurso tão idílico, que em nada prenuncia a
hecatombe na qual se sustenta a mensagem última trazida pelos nomeados
mensageiros...
J.A.R. – H.C.
Louise Glück
(n. 1943)
Messengers
You have only to
wait, they will find you.
The geese flying low
over the marsh,
glittering in black
water.
They find you.
And the deer –
how beautiful they
are,
as though their
bodies did not impede them.
Slowly they drift
into the open
through bronze panels
of sunlight.
Why would they stand
so still
if they were not
waiting?
Almost motionless,
until their cages rust,
the shrubs shiver in
the wind,
squat and leafless.
You have only to let
it happen:
that cry – release,
release – like the moon
wrenched out of earth
and rising
full in its circle of
arrows
until they come
before you
like dead things,
saddled with flesh,
and you above them,
wounded and dominant.
O Animal Nobre
(Sir Edwin Henry
Landseer: artista inglês)
Mensageiros
Você só tem que
esperar, eles lhe encontrarão.
Os gansos que voam
baixo sobre o charco,
brilhando na água escura,
haverão de lhe
encontrar.
E os cervos:
que belos são,
como se seus corpos
não os tolhessem.
Lentamente se movem
rumo ao céu aberto
em meio a um cenário tisnado
pela luz solar.
Por que ficariam
assim, tão quietos,
se não estivessem à
espera?
Quase imóveis, até
que seus engradados embolorem,
os arbustos fremem ao
vento,
vergados e sem
folhas.
Você só precisa
deixar que isso aconteça:
aquele grito – solte-se,
solte-se – como a lua cheia
que se desprende da
terra e ascende
em seu círculo dardejante,
até que eles lhe venham à presença
como coisas mortas, subjugadas
pela carne,
e você sobre elas,
ferido e dominante.
Referência:
GLÜCK, Louise. Messengers. In:
McCLATCHY, J. D. (Ed.). The vintage book of contemporary american poetry. 2nd ed. New York,
NY: Vintage Books (A Division of Random House Inc.), march 2003. p.
503-504.
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