Em momento de contemplação e reflexão,
o poeta descreve o cenário à volta de Gravelly Run – um córrego no Condado de Cumberland,
na Carolina do Norte (USA). De fato, trata-se de uma visão antropomórfica da
natureza, enigmaticamente alterada para se poder “visualizar” uma divindade
panteísta numa catedral verde.
A sensação material do mundo afasta
qualquer imanência, continuidade ou transcendência. E essa desconfortável
evidência gera transtornos à perspectiva algo metafísica que Ammons abraça em
grande parte de sua obra. Ou ainda: Ammons aprecia o mundo com os óculos da
filosofia – mas, ao mesmo tempo, a confrange entre a parede e a espada!
J.A.R. – H.C.
A. R. Ammons
(1926-2001)
Gravelly Run
I don’t know somehow
it seems sufficient
to see and hear
whatever coming and going is,
losing the self to
the victory
of stones and trees,
of bending sandpit
lakes, crescent
round groves of dwarf
pine:
for it is not so much
to know the self
as to know it as it
is known
by galaxy and cedar
cone,
as if birth had never
found it
and death could never
end it:
the swamp’s slow
water comes
down Gravelly Run
fanning the long
stone-held algal
hair and narrowing
roils between
the shoulders of the
highway bridge:
holly grows on the
banks in the woods there,
and the cedars’
gothic-clustered
spires could make
green religion in
winter bones:
so I look and
reflect, but the air’s glass
jail seals each thing
in its entity:
no use to make any
philosophies here:
I see no
god in the holly,
hear no song from
the snowbroken weeds:
Hegel is not the winter
yellow in the pines:
the sunlight has never
heard of trees:
surrendered self among
unwelcoming forms:
stranger,
hoist your burdens,
get on down the road.
A Ponte
(Claude Monet: pintor
francês)
Gravelly Run
Não sei, de algum
modo parece suficiente
ver e ouvir o que
está indo e vindo,
renunciando ao ser pela
vitória
de pedras e árvores,
de sinuosos lagos de
areia, de arvoredo de
pinheiros-anões em meia-lua:
pois não se trata
tanto de conhecer o ser
quanto de conhecê-lo
como o conhecem
a galáxia e a pinha
de cedro,
como se gerado não fosse
ele pelo nascimento
e a morte jamais o
pudesse extinguir:
a lenta água do
pântano chega
a Gravelly Run
agitando a longa cabeleira
das algas agarradas
às pedras,
turvando-se no ponto de constrição
entre os pilares da
ponte da estrada:
ali nos bosques o
azevinho cresce nas bordas
e as cristas do
aglomerado gótico
de cedros poderiam induzir
religião verde em
ossos de inverno:
desse modo é que
contemplo e reflito, mas o cárcere
vítreo do ar sela
cada coisa em sua entidade:
Não há proveito em exprimir
filosofias aqui:
não vejo nenhum
deus no azevinho, tampouco
ouço canção alguma vinda
das ervas crestadas
pela neve: Hegel não é o amarelo
invernal dos
pinheiros: a luz do sol jamais
ouviu falar das
árvores: do meu renunciado ser entre
formas hostis:
estrangeiro,
ergue o teu fardo, encaminha-te
à estrada.
Referência:
AMMONS, A. R. Gravelly Run. In:
McCLATCHY, J. D. (Ed.). The vintage book of contemporary american poetry. 2nd ed. New York,
NY: Vintage Books (A Division of Random House Inc.), march 2003. p.
266-267.
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