Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 23 de junho de 2017

A. R. Ammons - Gravelly Run

Em momento de contemplação e reflexão, o poeta descreve o cenário à volta de Gravelly Run – um córrego no Condado de Cumberland, na Carolina do Norte (USA). De fato, trata-se de uma visão antropomórfica da natureza, enigmaticamente alterada para se poder “visualizar” uma divindade panteísta numa catedral verde.

A sensação material do mundo afasta qualquer imanência, continuidade ou transcendência. E essa desconfortável evidência gera transtornos à perspectiva algo metafísica que Ammons abraça em grande parte de sua obra. Ou ainda: Ammons aprecia o mundo com os óculos da filosofia – mas, ao mesmo tempo, a confrange entre a parede e a espada!

J.A.R. – H.C.

A. R. Ammons
(1926-2001)

Gravelly Run

I don’t know somehow it seems sufficient
to see and hear whatever coming and going is,
losing the self to the victory
of stones and trees,
of bending sandpit lakes, crescent
round groves of dwarf pine:

for it is not so much to know the self
as to know it as it is known
by galaxy and cedar cone,
as if birth had never found it
and death could never end it:

the swamp’s slow water comes
down Gravelly Run fanning the long
stone-held algal
hair and narrowing roils between
the shoulders of the highway bridge:

holly grows on the banks in the woods there,
and the cedars’ gothic-clustered
spires could make
green religion in winter bones:

so I look and reflect, but the air’s glass
jail seals each thing in its entity:

no use to make any philosophies here:
I see no
god in the holly, hear no song from
the snowbroken weeds: Hegel is not the winter
yellow in the pines: the sunlight has never
heard of trees: surrendered self among
unwelcoming forms: stranger,
hoist your burdens, get on down the road.

A Ponte
(Claude Monet: pintor francês)

Gravelly Run

Não sei, de algum modo parece suficiente
ver e ouvir o que está indo e vindo,
renunciando ao ser pela vitória
de pedras e árvores,
de sinuosos lagos de areia, de arvoredo de
pinheiros-anões em meia-lua:

pois não se trata tanto de conhecer o ser
quanto de conhecê-lo como o conhecem
a galáxia e a pinha de cedro,
como se gerado não fosse ele pelo nascimento
e a morte jamais o pudesse extinguir:

a lenta água do pântano chega
a Gravelly Run agitando a longa cabeleira
das algas agarradas
às pedras, turvando-se no ponto de constrição
entre os pilares da ponte da estrada:

ali nos bosques o azevinho cresce nas bordas
e as cristas do aglomerado gótico
de cedros poderiam induzir
religião verde em ossos de inverno:

desse modo é que contemplo e reflito, mas o cárcere
vítreo do ar sela cada coisa em sua entidade:

Não há proveito em exprimir filosofias aqui:
não vejo nenhum
deus no azevinho, tampouco ouço canção alguma vinda
das ervas crestadas pela neve: Hegel não é o amarelo
invernal dos pinheiros: a luz do sol jamais
ouviu falar das árvores: do meu renunciado ser entre
formas hostis: estrangeiro,
ergue o teu fardo, encaminha-te à estrada.

Referência:

AMMONS, A. R. Gravelly Run. In: McCLATCHY, J. D. (Ed.). The vintage book of contemporary ‎‎american poetry. 2nd ed. New York, NY: Vintage Books (A Division of ‎‎Random House Inc.), march 2003. p. 266-267.

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