Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 29 de junho de 2017

John Ashbery - A Melhoria

As coisas mudam rápida e incessantemente, a vida aí considerada, tudo envolto num processo complexo, impenetrável e intrigante, com matizes negativos e positivos. Se é que a vida tem um sentido, qual seria ele? Até esse ponto o poema nos transporta, sem oferecer respostas infalíveis.

Mesmo que tudo pareça familiar, nada é tão trivial, e o poeta tenta assimilar o choque de acordar frente ao ordinário. Espera ele pela renovação do mundo, nem que, para tanto, tenha-se que retornar ao ponto de origem.

J.A.R. – H.C.

John Ashbery
(n. 1927)

The Improvement

Is that where it happens?
Only yesterday when I came back, I had this
diaphanous disaffection for this room, for spaces,
for the whole sky and whatever lies beyond.
I felt the eggplant, then the rhubarb.
Nothing seems strong enough for
this life to manage, that sees beyond
into particles forming some kind of entity –
so we get dressed kindly, crazy at the moment.
A life of afterwords begins.

We never live long enough in our lives
to know what today is like.
Shards, smiling beaches,
abandon us somehow even as we converse with them.
And the leopard is transparent, like iced tea.

I wake up, my face pressed
in the dewy mess of a dream. It mattered,
because of the dream, and because dreams are by nature sad
even when there’s a lot of exclaiming and beating
as there was in this one. I want the openness
of the dream turned inside out, exploded
into pieces of meaning by its own unasked questions,
beyond the calculations of heaven. Then the larkspur
would don its own disproportionate weight,
and trees return to the starting gate.
See, our lips bend.

Jardim de delfínios róseos e azuis
(Laurie Rohner: pintora norte-americana)

A Melhoria

Aí é onde acontece?
Somente ontem, quando retornei, tive essa
diáfana insatisfação por este cômodo, pelos espaços,
pelo céu inteiro e tudo o que se encontre mais além.
Senti a berinjela, logo depois o ruibarbo.
Nada parece forte o bastante para que
esta vida seja bem-sucedida, para que alcance o interior
das partículas a compor um certo tipo de entidade
então nos vestimos amavelmente, loucos pelo momento.
E uma vida de epílogos começa.

Nunca vivemos o suficiente em nossas vidas
para saber como é o dia de hoje.
Estilhaços, praias risonhas,
abandonam-nos de alguma forma, mesmo quando com eles
conversamos.
E o leopardo é transparente, como um chá gelado.

Desperto, meu rosto premido
pela desordem orvalhada de um sonho. Era algo importante,
quer pelo próprio sonho, quer porque os sonhos são tristes
por natureza,
mesmo quando há um monte de exclamações e batidas,
tal como ocorrera neste. Espero que a compreensão
do sonho ocorra de dentro para fora, detonada
em nacos de significados por suas próprias perguntas não
formuladas,
para além dos cálculos celestes. Então o delfínio
se envolveria em seu próprio peso desproporcional,
e as árvores retornariam ao ponto de partida.
Veja, nossos lábios se dobram.

Referência:

ASHBERY, John. The improvement. In: PINSKY, Robert; DIETZ, Maggie (Eds.). American’s favorite poems: the favorite poem project anthology. New York, NY: W. W. Norton, 2000. p. 11.

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