Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 17 de junho de 2017

Audre Lorde - Carvão

Nas derradeiras e visionárias linhas deste poema, Audre Lorde, autora afro-americana, enfatiza o papel do poeta enquanto líder e militante, e a função da poesia como expressão de uma visão intrinsecamente negra.

A metáfora do carvão, revestido de sua plena negritude e saído das profundezas da Terra para tornar-se a mais primária fonte de combustão, convola-se, em sua forma idealizada, numa joia ou num diamante – a palavra intensa que rebrilha a céu aberto.

J.A.R. – H.C.

Audre Lorde
(1934-1992)

Coal

I
is the total black, being spoken
from the earth’s inside.
There are many kinds of open
how a diamond comes into a knot of flame
how a sound comes into a word, colored
by who pays what for speaking.

Some words are open like a diamond
on glass windows
singing out within the passing crash of sun.
Then there are words like stapled wagers
in a perforated book – buy and sign and tear apart –
andcome whatever wills all chances
the stub remains
an ill-pulled tooth with a ragged edge.

Some words live in my throat
breeding like adders. Others know sun
seeking like gypsies over my tongue
to explode through my lips
like young sparrows bursting from shell.
Some words
bedevil me.

Love is a word, another kind of open.
As the diamond comes into a knot of flame
I am Black because I come from the earth’s inside
now take my word for jewel in the open light.

Velha com o recipiente de carvão
(Peter Paul Rubens: pintor flamengo)

Carvão

Eu
é o inteiramente negro, sendo pronunciado
do interior da Terra.
Há muitas espécies de aberto,
como um diamante a transformar-se num nó de chama,
como um som a converter-se numa palavra, colorida
por quem paga o quê para falar.

Algumas palavras são abertas como um diamante
sobre janelas de vidro,
comprazendo-se ao efêmero impacto do sol.
Além disso, há palavras como apostas grampeadas
num caderno-espiral – comprar, assinar e descartar –
anelando as chances, o que quer que reserve o destino;
permanece todavia o cepo,
um dente mal-extraído com uma borda desigual.

Algumas palavras vivem em minha garganta,
reproduzindo-se como víboras. Outras conhecem o sol,
buscando, como ciganos sobre a minha língua,
explodir através dos meus lábios,
como jovens pardais desembaraçando-se de sua casca.
Algumas palavras
importunam-me.

Amor é uma palavra: mais uma categoria de aberto.
Como um diamante a transformar-se num nó de chama,
sou Negra porque provenho do interior da Terra;
agora tome a minha palavra como uma joia na luz aberta.

Referência:

LORDE, Audre. Coal. In: McCLATCHY, J. D. (Ed.). The vintage book of contemporary american poetry. 2nd ed. New York, NY: Vintage Books (A Division of Random House Inc.), march 2003. p. 402-403.

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