Nas derradeiras e visionárias linhas
deste poema, Audre Lorde, autora afro-americana, enfatiza o papel do poeta
enquanto líder e militante, e a função da poesia como expressão de uma visão intrinsecamente negra.
A metáfora do carvão, revestido de sua
plena negritude e saído das profundezas da Terra para tornar-se a mais primária
fonte de combustão, convola-se, em sua forma idealizada, numa joia ou num diamante
– a palavra intensa que rebrilha a céu aberto.
J.A.R. – H.C.
Audre Lorde
(1934-1992)
Coal
I
is the total black, being spoken
from the earth’s inside.
There are many kinds of open
how a diamond comes into a knot of flame
how a sound comes into a word, colored
by who pays what for speaking.
Some words are open like a diamond
on glass windows
singing out within the passing crash of sun.
Then there are words like stapled wagers
in a perforated book – buy and sign and tear apart
–
andcome whatever wills all chances
the stub remains
an ill-pulled tooth with a ragged edge.
Some words live in my throat
breeding like adders. Others know sun
seeking like gypsies over my tongue
to explode through my lips
like young sparrows bursting from shell.
Some words
bedevil me.
Love is a word, another kind of open.
As the diamond comes into a knot of flame
I am Black because I come from the earth’s inside
now take my word for jewel in the open light.
Velha com o
recipiente de carvão
(Peter Paul Rubens:
pintor flamengo)
Carvão
Eu
é o inteiramente negro,
sendo pronunciado
do interior da Terra.
Há muitas espécies de
aberto,
como um diamante a transformar-se
num nó de chama,
por quem paga o quê
para falar.
Algumas palavras são
abertas como um diamante
sobre janelas de
vidro,
comprazendo-se ao
efêmero impacto do sol.
Além disso, há
palavras como apostas grampeadas
num caderno-espiral –
comprar, assinar e descartar –
anelando as chances, o
que quer que reserve o destino;
permanece todavia o
cepo,
um dente mal-extraído
com uma borda desigual.
Algumas palavras
vivem em minha garganta,
reproduzindo-se como
víboras. Outras conhecem o sol,
buscando, como
ciganos sobre a minha língua,
explodir através dos
meus lábios,
como jovens pardais
desembaraçando-se de sua casca.
Algumas palavras
importunam-me.
Amor é uma palavra: mais
uma categoria de aberto.
Como um diamante a transformar-se
num nó de chama,
sou Negra porque provenho
do interior da Terra;
agora tome a minha
palavra como uma joia na luz aberta.
Referência:
LORDE, Audre. Coal. In: McCLATCHY, J. D. (Ed.). The vintage book of
contemporary american poetry. 2nd ed. New
York, NY: Vintage Books (A Division of Random House Inc.), march 2003. p. 402-403.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário