Metaforizado na figura de Mephisto, o
poeta, ao mesmo tempo um intelecto aprimorado como Fausto, concebe ideias que
se articulam audaciosa e ousadamente para confrontar quaisquer princípios éticos
que, porventura, venham lhe sobressaltar.
Vê-se ele como um espírito cínico, um legítimo
“ginasta diletante”, criador de sofismas capazes de atentar a lógica, para poder
colocar em dúvida a ordem das coisas e fazer valer o ímpeto da lascívia,
obsessão maior que se lhe emerge de “viciosos círculos”.
J.A.R. – H.C.
Raul de Leoni
(1895-1926)
Mefisto
Espírito flexível e
elegante,
Ágil, lascivo,
plástico, difuso,
Entre as cousas
humanas me conduzo
Como um destro
ginasta diletante.
Comigo mesmo cínico e
confuso,
Minha vida é um
sofisma espiralante;
Teço lógicas trêfegas
e abuso
Do equilíbrio, na
Dúvida flutuante.
Bailarino dos
círculos viciosos,
Faço jogos sutis de
ideias no ar,
Entre saltos
brilhantes e mortais,
Com a mesma
petulância singular
Dos grandes acrobatas
audaciosos
E dos malabaristas de
punhais...
Em: “Luz Mediterrânea”
(1922)
Mefisto aparece a
Fausto
(Eugène Delacroix: pinto
francês)
Referência:
LEONI, Raul de. Mefisto. In: GÓES,
Fernando. Panorama da poesia brasileira. Volume V: o pré-modernismo. Rio
de Janeiro, GB: Civilização Brasileira, 1960. p. 358.
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