Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 31 de maio de 2017

Raul de Leoni - Mefisto

Metaforizado na figura de Mephisto, o poeta, ao mesmo tempo um intelecto aprimorado como Fausto, concebe ideias que se articulam audaciosa e ousadamente para confrontar quaisquer princípios éticos que, porventura, venham lhe sobressaltar.

Vê-se ele como um espírito cínico, um legítimo “ginasta diletante”, criador de sofismas capazes de atentar a lógica, para poder colocar em dúvida a ordem das coisas e fazer valer o ímpeto da lascívia, obsessão maior que se lhe emerge de “viciosos círculos”.

J.A.R. – H.C.

Raul de Leoni
(1895-1926)

Mefisto

Espírito flexível e elegante,
Ágil, lascivo, plástico, difuso,
Entre as cousas humanas me conduzo
Como um destro ginasta diletante.

Comigo mesmo cínico e confuso,
Minha vida é um sofisma espiralante;
Teço lógicas trêfegas e abuso
Do equilíbrio, na Dúvida flutuante.

Bailarino dos círculos viciosos,
Faço jogos sutis de ideias no ar,
Entre saltos brilhantes e mortais,

Com a mesma petulância singular
Dos grandes acrobatas audaciosos
E dos malabaristas de punhais...

Em: “Luz Mediterrânea” (1922)

Mefisto aparece a Fausto
(Eugène Delacroix: pinto francês)

Referência:

LEONI, Raul de. Mefisto. In: GÓES, Fernando. Panorama da poesia brasileira. Volume V: o pré-modernismo. Rio de Janeiro, GB: Civilização Brasileira, 1960. p. 358.

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