A evocar a narrativa bíblica do
momento da criação do mundo no Gênesis, encantadoramente reelaborada no início do
Evangelho de João, Duvivier, com a sua natural verve humorística, associa-a também
ao momento prístino em que todos os erros da gramática eclodiram.
Explico-me: os
erros de concordância verbal, mais especificamente. Afinal, se no princípio era o “verbo”, o núcleo
concentrado de toda ação de que são compostas as orações, faltam a estas os sujeitos
e os seus respectivos predicados, momento a partir do qual surge a dor na
cabeça para torná-los conformes às corretas regras da gramática.
J.A.R. – H.C.
Gregorio Duvivier
(n. 1986)
gênese II
No princípio era o
verbo
uma vaga voz sem dono
vagando pela via
láctea.
Depois veio o sujeito
e junto com ele todos
os erros de
concordância.
O Poema da Alma: a
criação divina
(Louis Janmot: pintor
e poeta francês)
Referência:
DUVIVIER, Gregorio. gênese II. In: CALCANHOTO,
Adriana (Org.). É agora como nunca: antologia incompleta da poesia
contemporânea brasileira. 1. ed. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2017. p.
23.
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