Tantas vezes intitulado em antologias
como “Deus dentro de nós”, este poema do grande poeta simbolista mineiro
resenha a ideia bíblica contida no Evangelho de Lucas, segundo a qual o “o
reino de Deus está dentro de vós”, e não nas externalidades das coisas do mundo
(Lc. 17: 20,21).
Segundo Guimaraens, mesmo o mais ímpio
dos homens é capaz de pressentir o espírito divino que paira sobre a criação,
esse portentoso engenho cujos mistérios ainda estamos muito longe de desvendar.
J.A.R. – H.C.
Alphonsus de
Guimaraens
(1870-1921)
Soneto
Deus é a luz
celestial que os astros unge e veste,
E dessa eterna luz
nós todos fomos feitos.
Um fulgor de orações
brilha nos nossos peitos:
É o reflexo estelar
dessa origem celeste.
O homem mais louco e
vil, cuja alma ímpia se creste
Aos fogos infernais
dos mais torpes defeitos,
De vez em quando
sente esplendores eleitos,
Que tombam nele como
o luar sobre um cipreste.
Quem não sentiu no
peito a carícia divina,
A enchê-lo de clarões
na transparência hialina
De um astro que
cintila em pleno azul sem véus?
Tudo é luz na nossa
alma, e o mais vil, o mais louco,
Bem sabe que esta
vida é um sol que dura pouco
E que Deus vive em
nós como dentro dos céus...
As Cores da Vida
(Chuck Pinson: pintor
norte-americano)
Referência:
GUIMARAENS, Alphonsus. Soneto. In: LISBOA,
Henriqueta (Org.). Antologia escolar de poemas para a juventude. Rio de
Janeiro, RJ: Ediouro - Tecnoprint, 1981. p. 53. (Coleção “Prestígio”)
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