Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 24 de maio de 2017

James Wright - Uma Benção

Como uma benção, a visão de um casal de pôneis indígenas transpõe o poeta ao limiar de uma experiência fora do corpo: em equilíbrio com a natureza, os animais à volta se comprazem em ver os dois amigos passeando por ali – e vice-versa.

Temos aí a natureza como um antídoto contra a solidão, na medida em que é capaz de remediar o sofrimento e oferecer vislumbres do verdadeiro amor. Há, ademais, muitos que creem num poder espiritual que conecta todos os seres: pessoas, animais e plantas. Logo, “sair do corpo para irromper em flor” faz todo o sentido sob tal perspectiva mística!

J.A.R. – H.C.

James Wright
(1927-1980)

A Blessing

Just off the highway to Rochester, Minnesota,
Twilight bounds softly forth on the grass.
And the eyes of those two Indian ponies
Darken with kindness.
They have come gladly out of the willows
To welcome my friend and me.
We step over the barbed wire into the pasture
Where they have been grazing all day, alone.
They ripple tensely, they can hardly contain their happiness
That we have come.
They bow shyly as wet swans. They love each other.
There is no loneliness like theirs.
At home once more,
They begin munching the young tufts of spring in the darkness.
I would like to hold the slenderer one in my arms,
For she has walked over to me
And nuzzled my left hand.
She is black and white,
Her mane falls wild on her forehead,
And the light breeze moves me to caress her long ear
That is delicate as the skin over a girl’s wrist.
Suddenly I realize
That if I stepped out of my body I would break
Into blossom.

Dois Cavalos Indígenas
(Bev Doolittle: artista norte-americana)

Uma Benção

No desvio da estrada que leva a Rochester, Minnesota,
Os limites do crepúsculo avançam suavemente sobre a grama.
E os olhos daqueles dois pôneis indígenas
Escurecem com delicadeza.
Surgiram alegremente de entre os salgueiros
Para nos dar as boas vindas, a meu amigo e a mim.
Transpomos o arame farpado em direção ao prado
Onde eles estiveram o dia todo a pastar, sozinhos.
Agitam-se tensamente, mal conseguindo conter a felicidade
Por havermos despontado.
Curvam-se timidamente como cisnes molhados. Amam-se mutuamente.
Não há solidão como a deles.
No lar mais uma vez,
Começam a mastigar os novos tufos da primavera na escuridão.
Gostaria de envolver em meus braços o mais esbelto,
Pois ela veio até mim
E roçou o focinho em minha mão esquerda.
É preta e branca,
A crina lhe cai selvagem sobre a fronte,
E a brisa leve incita-me a acariciar sua longa orelha
Tão delicada quanto a pele do pulso de uma menina.
De repente me dou conta
De que se saísse do meu corpo irromperia
Em flor.

Referência:

WRIGHT, James. A blessing. In: McCLATCHY, J. D. (Ed.). The vintage book of contemporary ‎‎american poetry. 2nd ed. New York, NY: Vintage Books (A Division of ‎‎Random House Inc.), march 2003. p. 291.

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