Como uma benção, a visão de um casal de
pôneis indígenas transpõe o poeta ao limiar de uma experiência fora do corpo:
em equilíbrio com a natureza, os animais à volta se comprazem em ver os dois
amigos passeando por ali – e vice-versa.
Temos aí a natureza como um antídoto
contra a solidão, na medida em que é capaz de remediar o sofrimento e oferecer
vislumbres do verdadeiro amor. Há, ademais, muitos que creem num poder espiritual
que conecta todos os seres: pessoas, animais e plantas. Logo, “sair do corpo
para irromper em flor” faz todo o sentido sob tal perspectiva mística!
J.A.R. – H.C.
James Wright
(1927-1980)
A Blessing
Just off the highway
to Rochester, Minnesota,
Twilight bounds
softly forth on the grass.
And the eyes of those
two Indian ponies
Darken with kindness.
They have come gladly
out of the willows
To welcome my friend
and me.
We step over the
barbed wire into the pasture
Where they have been
grazing all day, alone.
They ripple tensely,
they can hardly contain their happiness
That we have come.
They bow shyly as wet
swans. They love each other.
There is no
loneliness like theirs.
At home once more,
They begin munching
the young tufts of spring in the darkness.
I would like to hold
the slenderer one in my arms,
For she has walked
over to me
And nuzzled my left
hand.
She is black and
white,
Her mane falls wild
on her forehead,
And the light breeze moves
me to caress her long ear
That is delicate as
the skin over a girl’s wrist.
Suddenly I realize
That if I stepped out
of my body I would break
Into blossom.
Dois Cavalos
Indígenas
(Bev Doolittle:
artista norte-americana)
Uma Benção
No desvio da estrada
que leva a Rochester, Minnesota,
Os limites do
crepúsculo avançam suavemente sobre a grama.
E os olhos daqueles
dois pôneis indígenas
Escurecem com delicadeza.
Surgiram alegremente
de entre os salgueiros
Para nos dar as boas
vindas, a meu amigo e a mim.
Transpomos o arame
farpado em direção ao prado
Onde eles estiveram o
dia todo a pastar, sozinhos.
Agitam-se tensamente,
mal conseguindo conter a felicidade
Por havermos
despontado.
Curvam-se timidamente
como cisnes molhados. Amam-se mutuamente.
Não há solidão como a
deles.
No lar mais uma vez,
Começam a mastigar os
novos tufos da primavera na escuridão.
Gostaria de envolver
em meus braços o mais esbelto,
Pois ela veio até mim
E roçou o focinho em minha
mão esquerda.
É preta e branca,
A crina lhe cai
selvagem sobre a fronte,
E a brisa leve incita-me
a acariciar sua longa orelha
Tão delicada quanto a
pele do pulso de uma menina.
De repente me dou
conta
De que se saísse do meu
corpo irromperia
Em flor.
Referência:
WRIGHT, James. A blessing. In:
McCLATCHY, J. D. (Ed.). The vintage book of contemporary american poetry. 2nd ed. New York,
NY: Vintage Books (A Division of Random House Inc.), march 2003. p.
291.
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