Vamos a um poema que desperta o leitor
pela irreverência e humor, em meio a versos de aparente simplicidade que oscilam
entre a poesia e a antipoesia: Cope altera, em versos subsequentes, a ordem das
palavras apresentadas em versos precedentes, de forma a gerar combinações que
resultam inusitadas à comum lógica dos mortais.
De fato, a poetisa inglesa concebeu o
aludido poema depois de apreciar a obra homônima do pintor surrealista italiano
Giorgio de Chirico, na “Tate Gallery”, em Londres (vide abaixo). Mesmo que se
postule eventual seriedade no tom da poesia de Cope, perdura na mente de quem a
lê o propósito de um gracejo ao sentido último que o quadro provê: elementos
estáveis – como as linhas clássicas dos arcos e o busto feminino em primeiro
plano –, combinados com outros contingentes – como o trem em movimento, ao
fundo, e o cacho das bananas à primeira vista.
No espaço da contemporaneidade e da
pós-modernidade, imagino que o poema de Cope esteja investido dos mesmos ingredientes
fugazes que transitam pela tela de Chirico: a metáfora de um comboio que corta
o nosso espaço visual e se perde no horizonte cai-lhe muito bem...
J.A.R. – H.C.
Wendy Cope
(n. 1945)
The Uncertainty of
the Poet
I am a poet.
I am very fond of
bananas.
I am bananas.
I am very fond of a
poet.
I am a poet of
bananas.
I am very fond.
A fond poet of ‘I am,
I am’ –
Very bananas.
Fond of ‘Am I
bananas?
Am I?’ – a very poet.
Bananas of a poet!
Am I fond? Am I very?
Poet bananas! I am.
I am fond of a ‘very’.
I am of very fond
bananas.
Am I a poet?
A Incerteza do Poeta
(Giorgio de Chirico:
pintor italiano)
A Incerteza do Poeta
Sou um poeta,
Sou um autêntico
louco por bananas.
Sou bananas.
Sou um autêntico
louco por um poeta.
Sou um poeta de
bananas.
Sou um autêntico louco.
Um poeta louco pelo
‘Eu sou, Eu sou’ –
Autênticas bananas.
Louco por “Eu sou
bananas?”
Eu sou? – um
autêntico poeta.
Bananas de um poeta.
Sou eu um louco? Sou autêntico?
Poeta bananas! Eu sou!
Sou louco por um ‘autêntico’.
Sou de loucas e autênticas
bananas.
Sou um poeta?
Referência:
COPE, Wendy. The uncertainty of the poet.
In: BENSON, Gerard; CHERNAIK, Judith; HERBERT, Cicely (Eds.). Best poems on the
underground. 1st. publ. London, EN: Weidenfeld & Nicolson, 2009. p. 62.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário