Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 17 de maio de 2017

Matthew Arnold ‎- A Praia de Dover

O poeta inglês vê nas idas e vindas das ondas do mar a metáfora da própria existência humana, com suas perplexidades e falta de estabilidade. E nessa cadência sem fim do fluxo das águas sobre os seixos da praia, ressoam aos ouvidos do poeta as notas das tragédias sofoclianas, com os seus determinismos e mandos divinos.

Diante dessa bela cena, Arnold confronta o modo como a evolução – seriam as descobertas da ciência? –, já àquela altura, vinha alterando para sempre a visão que temos da natureza, algo mais afastada dos pressupostos teológicos, mas carente de significação por igual, se, por trás de tudo, o amor não se manifesta.

J.A.R. – H.C.

Matthew Arnold
(1822-1888)

Dover Beach

The sea is calm tonight.
The tide is full, the moon lies fair
Upon the straits; – on the French coast the light
Gleams and is gone; the cliffs of England stand,
Glimmering and vast, out in the tranquil bay.

Come to the window, sweet is the night-air!
Only, from the long line of spray
Where the sea meets the moon-blanched land,
Listen! you hear the grating roar
Of pebbles which the waves draw back, and fling,
At their return, up the high strand,
Begin, and cease, and then again begin,
With tremulous cadence slow, and bring
The eternal note of sadness in.

Sophocles long ago
Heard it on the Ægæan, and it brought
Into his mind the turbid ebb and flow
Of human misery; we
Find also in the sound a thought,
Hearing it by this distant northern sea.

The Sea of Faith
Was once, too, at the full, and round earth’s shore
Lay like the folds of a bright girdle furled.
But now I only hear
Its melancholy, long, withdrawing roar,
Retreating, to the breath
Of the night-wind, down the vast edges drear
And naked shingles of the world.

Ah, love, let us be true
To one another! for the world, which seems
To lie before us like a land of dreams,
So various, so beautiful, so new,
Hath really neither joy, nor love, nor light,
Nor certitude, nor peace, nor help for pain;
And we are here as on a darkling plain
Swept with confused alarms of struggle and flight,
Where ignorant armies clash by night.

From: “New Poems” (1867)

As Falésias Brancas da Praia de Dover
(M. Schaefer: pintor norte-americano)

Dover Beach

O mar está calmo esta noite.
A maré está cheia, a lua, linda
Sobre os canais:  na costa francesa a luz
Cintila e se foi; os penhascos ingleses ficam a tremeluzir imensos,
Lá fora, na baía tranquila.

Venha à janela, doce é o ar da noite!
Só, da longa linha vaporosa
Onde o mar cruza a terra lunalvar.
Ouça! Você escuta o ranger do ruído
De pedras que as vagas dão de volta,
E atiram ao retorno na praia alta.
Começa e cessa e de novo começa,
Com lenta e trêmula cadência e traz
Nisso a eterna nota de tristeza.

Sófocles há muito tempo
Ouviu o mesmo no Egeu, e isso trouxe
À sua mente o turvo esvair e fluir
Da miséria humana; nós
Encontramos também ao som um pensamento
Ouvindo-o por este remoto mar do norte.

O mar da Fé
Foi uma vez também e plenamente;
E contorna o rochedo lá da terra
Assenta-se como as dobras
De reluzente faixa a se enrolar.
Mas agora somente escuto
Seu bramir afastado, extenso e melancólico,
Voltando ao sopro do vento noturno
Sob as vastas e lúgubres escarpas
E estéreis seixos do universo.

Ah, o amor, sejamos sinceros
Um com o outro! pois este mundo, que parece
Estar pra nós como um país de sonhos
Tão belo, tão diverso, tão recente,
Não tem luz, nem amor, nem alegria,
Nem certeza, nem paz, nem pensa a dor;
E aqui ficamos como em sombria planície
Entre loucos alarmes de luta e fuga,
Onde ignaras tropas chocam-se à noite.

De: “Novos Poemas” (1867)

Referências:

Em Inglês

ARNOLD, Matthew. Dover beach. In: __________. Dover beach and other poems. Edited by Candace Ward. New York, NY: Dover Publications Inc., 1994. p. 86-87. (‘Dover Thrift Editions’)

Em Português

ARNOLD, Matthew. Dover beach. Tradução de José Lino Grünewald. In: GRÜNEWALD, José Lino (Seleção, tradução e organização). Grandes poetas da língua inglesa do século XX. Edição bilíngue. Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira, 1988. p. 115 e 117.

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