O poeta inglês vê nas idas e vindas das
ondas do mar a metáfora da própria existência humana, com suas perplexidades e falta
de estabilidade. E nessa cadência sem fim do fluxo das águas sobre os seixos da
praia, ressoam aos ouvidos do poeta as notas das tragédias sofoclianas, com os
seus determinismos e mandos divinos.
Diante dessa bela cena, Arnold
confronta o modo como a evolução – seriam as descobertas da ciência? –, já
àquela altura, vinha alterando para sempre a visão que temos da natureza, algo
mais afastada dos pressupostos teológicos, mas carente de
significação por igual, se, por trás de tudo, o amor não se manifesta.
J.A.R. – H.C.
Matthew Arnold
(1822-1888)
Dover Beach
The sea is calm tonight.
The tide is full, the moon lies fair
Upon the straits; – on the French coast
the light
Gleams and is gone; the cliffs of
England stand,
Glimmering and vast, out in the
tranquil bay.
Come to the window, sweet is the
night-air!
Only, from the long line of spray
Where the sea meets the moon-blanched
land,
Listen! you hear the grating roar
Of pebbles which the waves draw back,
and fling,
At their return, up the high strand,
Begin, and cease, and then again begin,
With tremulous cadence slow, and bring
The eternal note of sadness in.
Sophocles long ago
Heard it on the Ægæan,
and it brought
Into his mind the
turbid ebb and flow
Of human misery; we
Find also in the
sound a thought,
Hearing it by this
distant northern sea.
The Sea of Faith
Was once, too, at the
full, and round earth’s shore
Lay like the folds of
a bright girdle furled.
But now I only hear
Its melancholy, long,
withdrawing roar,
Retreating, to the
breath
Of the night-wind,
down the vast edges drear
And naked shingles of
the world.
Ah, love, let us be
true
To one another! for
the world, which seems
To lie before us like
a land of dreams,
So various, so
beautiful, so new,
Hath really neither
joy, nor love, nor light,
Nor certitude, nor
peace, nor help for pain;
And we are here as on
a darkling plain
Swept with confused
alarms of struggle and flight,
Where ignorant armies
clash by night.
From: “New Poems”
(1867)
As Falésias Brancas
da Praia de Dover
(M. Schaefer: pintor
norte-americano)
Dover Beach
O mar está calmo esta
noite.
A maré está cheia, a
lua, linda
Sobre os canais: – na
costa francesa a luz
Cintila e se foi; os
penhascos ingleses ficam a tremeluzir imensos,
Lá fora, na baía
tranquila.
Venha à janela, doce
é o ar da noite!
Só, da longa linha
vaporosa
Onde o mar cruza a
terra lunalvar.
Ouça! Você escuta o
ranger do ruído
De pedras que as
vagas dão de volta,
E atiram ao retorno
na praia alta.
Começa e cessa e de
novo começa,
Com lenta e trêmula
cadência e traz
Nisso a eterna nota
de tristeza.
Sófocles há muito
tempo
Ouviu o mesmo no
Egeu, e isso trouxe
À sua mente o turvo
esvair e fluir
Da miséria humana;
nós
Encontramos também ao
som um pensamento
Ouvindo-o por este
remoto mar do norte.
O mar da Fé
Foi uma vez também e
plenamente;
E contorna o rochedo
lá da terra
Assenta-se como as
dobras
De reluzente faixa a
se enrolar.
Mas agora somente
escuto
Seu bramir afastado,
extenso e melancólico,
Voltando ao sopro do
vento noturno
Sob as vastas e lúgubres
escarpas
E estéreis seixos do
universo.
Ah, o amor, sejamos
sinceros
Um com o outro! pois
este mundo, que parece
Estar pra nós como um
país de sonhos
Tão belo, tão
diverso, tão recente,
Não tem luz, nem
amor, nem alegria,
Nem certeza, nem paz,
nem pensa a dor;
E aqui ficamos como
em sombria planície
Entre loucos alarmes
de luta e fuga,
Onde ignaras tropas
chocam-se à noite.
De: “Novos Poemas”
(1867)
Referências:
Em Inglês
ARNOLD, Matthew. Dover beach. In: __________.
Dover beach and other poems. Edited by Candace Ward. New York, NY: Dover
Publications Inc., 1994. p. 86-87. (‘Dover Thrift Editions’)
Em Português
ARNOLD, Matthew. Dover beach. Tradução
de José Lino Grünewald. In: GRÜNEWALD, José Lino (Seleção, tradução e organização).
Grandes poetas da língua inglesa do século XX. Edição bilíngue. Rio de Janeiro, RJ: Nova
Fronteira, 1988. p. 115 e 117.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário