Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 26 de maio de 2017

Bertolt Brecht - Aos que Vão Nascer

Este poema, visualmente apresentado como três seções interconectadas com claras modulações marxistas, foi escrito em 1939 por Brecht, na Dinamarca, para onde ele havia partido, em fuga do regime nazista, então a promover um catálogo de indignidades.

As suas estrofes, sobretudo as derradeiras, estão carregadas de pesar e ansiedade. Desapontado, recorre à posteridade para que pondere, antes de condenar a sua geração, sobre as terríveis circunstâncias vividas pelo povo alemão naquele momento, instrumentalizado por uma ideologia destrutiva.

J.A.R. – H.C.

Bertolt Brecht
(1898-1956)

An die Nachgeborenen

I

Wirklich, ichlebe in finsterenZeiten!
Das argloseWortisttöricht. EineglatteStirn
Deutet auf Unempfindlichkeithin. Der Lachende
Hat die furchtbareNachricht
Nurnochnichtempfangen.

Was sind das fürZeiten, wo
EinGesprächüberBäume fast einVerbrechenist
Weil eseinSchweigenüber so vieleUntateneinschließt!
Der dortruhigüber die Straßegeht
Istwohlnichtmehrerreichbarfür seine Freunde
Die in Not sind?

Esistwahr: ichverdienenochmeinenUnterhalt
Aber glaubtmir: das istnureinZufall. Nichts
Von dem, was ichtue, berechtigtmichdazu, michsattzuessen.
Zufällig bin ichverschont. (Wennmein Glück aussetzt, bin ichverloren.)

Man sagtmir: Iß und trink du! Sei froh, daßduhast!
Aber wiekannichessen und trinken, wenn
Ich den Hungerndenentreiße, was ichesse, und
Mein GlasWassereinemVerdurstendenfehlt?
Und dochesseundtrinkeich.

Ichwäregerneauchweise.
In den altenBüchernsteht, was weiseist:
SichausdemStreit der Welt halten und die kurzeZeit
OhneFurchtverbringen
AuchohneGewaltauskommen
BösesmitGutemvergelten
Seine Wünschenichterfüllen, sondernvergessen
Gilt fürweise.
Alles das kannichnicht:
Wirklich, ichlebe in finsterenZeiten!

II

In die StädtekamichzurZeit der Unordnung
Als da Hunger herrschte.
Unter die Menschen kamichzurZeit des Aufruhrs
Und ichempörtemichmitihnen.
So verging meineZeit
Die auf Erdenmirgegeben war.

Mein Essen aßichzwischen den Schlachten
Schlafenlegteichmichunter die Mörder
Der Liebepflegteichachtlos
Und die NatursahichohneGeduld.
So verging meineZeit
Die auf Erdenmirgegeben war.

Die Straßenführten in den SumpfzumeinerZeit.
Die SpracheverrietmichdemSchlächter.
Ichvermochtenurwenig.Aber dieHerrschenden
Saßenohnemichsicherer, das hoffteich.
So verging meineZeit
Die auf Erdenmirgegeben war.

Die Kräftewarengering. Das Ziel
Lag in großerFerne
Es war deutlichsichtbar, wennauchfürmich
Kaumzuerreichen.
So verging meineZeit
Die auf Erdenmirgegeben war.

III

Ihr, die ihrauftauchenwerdetaus der Flut
In der wiruntergegangensind
Gedenkt
Wennihr von unserenSchwächensprecht
Auch der finsterenZeit
Der ihrentronnenseid.
Gingenwirdoch, öfterals die Schuhe die Länderwechselnd
Durch die Kriege der Klassen, verzweifelt
Wenn da nun Unrecht war und keineEmpörung.

Dabeiwissenwirdoch:
Auch der Haßgegen das Unrecht
Macht die Stimmeheiser. Ach, wir
Die wir den Boden bereitenwolltenfürFreundlichkeit
Konntenselbernichtfreundlich sein.

Ihraber, wennes so weit sein wird
Daß der Mensch dem Menschen einHelferist
Gedenktunsrer
MitNachsicht.

No Futuro
(Carol G. Armstrong: artista norte-americana)

Aos que Vão Nascer

I

Realmente, eu vivo num tempo sombrio.
A inocente palavra é um despropósito. Uma fronte sem ruga
denota insensibilidade. Quem está rindo
é só porque não recebeu ainda
a notícia terrível.

Que tempo é este em que
uma conversa sobre árvores chega a ser falta,
pois implica silenciar sobre tantos crimes?
Esse que vai cruzando a rua, calmamente,
então já não está ao alcance dos amigos
necessitados?

É verdade: ainda ganho o meu sustento.
Porém, acreditai-me: é puro acaso. Nada
do que faço me dá direito a isso, de comer a fartar-me.
Por acaso me poupam. (Se minha sorte acaba,
estou perdido.)

Dizem-me: – Vai comendo e vai bebendo! Alegra-te com o que tens!
Mas como hei de comer e beber, se
o que eu como é tirado a quem tem fome, e
meu copo d’água falta a quem tem sede?
Contudo eu como e bebo.

Eu bem gostaria de ser um sábio.
Nos velhos livros consta o que é sabedoria:
manter-se longe das lidas do mundo e o tempo breve
deixar correr sem medo.
Também saber passar sem violência,
pagar o mal com o bem,
os próprios desejos não realizar e sim esquecer,
conta-se como sabedoria.
Não posso nada disso:
realmente, eu vivo num tempo sombrio!

II

Às cidades cheguei em tempo de desordem,
com a fome imperando.
Junto aos homens cheguei em tempo de tumulto
e me rebelei com eles.
Assim passou-se o tempo
que sobre a terra me foi concedido.

Minha comida mastiguei entre refregas.
Para dormir deitei-me entre assassinos.
O amor eu exercia sem cuidado
e olhava sem paciência a natureza.
Assim passou-se o tempo
que sobre a terra me foi concedido.

As ruas do meu tempo iam dar no atoleiro.
A fala denunciava-me ao carrasco.
Bem pouco podia eu, mas os mandões
sem mim sentiam-se mais garantidos, eu esperava.
Assim passou-se o tempo
que sobre a terra me foi concedido.

Minguadas eram as forças. E a meta
ficava a grande distância;
claramente visível, conquanto para mim
difícil de alcançar.
Assim passou-se o tempo
que sobre a terra me foi concedido.

III

Vós, que vireis na crista da maré
em que nos afogamos,
pensai,
quando falardes em nossas fraquezas,
também no tempo sombrio
a que escapastes.

Vínhamos nós então mudando de país mais do que de sapatos,
em meio às lutas de classes, desesperados,
enquanto apenas injustiça havia e revolta nenhuma.

E entretanto sabíamos:
também o ódio à baixeza
endurece as feições,
também a raiva contra a injustiça
torna mais rouca a voz. Ah, e nós,
que pretendíamos preparar o terreno para a amizade,
nem bons amigos nós mesmos pudemos ser.
Mas vós, quando chegar a ocasião
de ser o homem um parceiro para o homem,
pensai em nós
com simpatia.

Referências:

Em Alemão

BRECHT, Bertolt. An die nachgeborenen. In: PROOST, Kristel; WINKLER, Edeltraud (Hrsg.). Von intentionalität zur bedeutung konventionalisierter zeichen: festschrift für Gisela Harras zum 65º geburtstag. Tübingen, GE: Gunter Narr Verlag, 2006. s. 258-260. (‘Studien zur Deutschen Sprache’ - Forschungen des Instituts für Deutsche Sprache)

Em Português

BRECHT, Bertolt. Aos que vão nascer. Tradução de Geir Campos. In: GULLAR, Ferreira (Organização e Traduções). O prazer do poema: uma antologia pessoal. Rio de Janeiro, RJ: Edições de Janeiro, 2014. p. 250-253.

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