Tantas inquirições no divagar do poeta
sobre si mesmo e suas circunstâncias: pergunta-se ele sobre os porquês da
existência, de tudo à sua volta, em especial das coisas que são capazes de
manifestar o sopro vivificante.
Roy, em seu estilo claro e simples,
brinca com as palavras e ideias, mesmo com o fato de estar vivo “sem ser
convidado”, porque, sem mais nem menos, esqueceu-se das razões que levam às práticas
de contar e sonhar, ou mesmo – quem sabe? – à vontade de ser e de estar.
J.A.R. – H.C.
Claude Roy
(1915-1997)
Le poseur de
questions
Très loin, dans le
dedans de mon écorce chaude,
dans le noir
embrouillé des veines et du sang,
le poseur de
questions tourne en rond, tourne et rôde:
il veut savoir
pourquoi tous ces gens ces passants?
Le mort que je serai
s’étonne d’être en vie,
du chat sur ses
genoux qui ronronne pour rien,
du grand ciel sans
raison, du gros vent malappris
qui bouscule l’ormeau
et se calme pour rien.
Un cheval roux
pourquoi? Pourquoi un sapin vert?
Et pourquoi ce
monsieur qui fait une addition,
qui compte: un
soleil, deux chiens, trois piverts,
qui compte sur ses
doigts pleins de suppositions ?
Il compte sur ses
doigts, mais perd dans ses calculs
sa raison de compter,
sa raison de rêver,
sa raison d'être là,
tout pesant de scrupules,
et d’être homme
vivant sans qu’on l’ait invité.
Dans: “Poésies”
(1970)
Os animais entrando
na arca de Noé
(Jan Brueghel, o
Velho: pintor flamengo)
O perguntador
Longe, bem dentro lá
da minha casa quente,
na negra confusão das
veias e do sangue,
roda o perguntador,
roda e ronda em sua mente:
busca saber por que
tanta gente passando?
O morto que eu serei
pasma de estar em vida,
do gato no seu colo a
ronronar por nada,
do céu tão grande em
vão, da estulta ventania
que sacode o olmeiro
e acalma-se por nada.
Por que um cavalo baio?
E por que verde o abeto?
Por que aquele senhor
a fazer adições,
a fazer conta: um sol,
dois cães, três pássaros-pretos,
conta nos dedos
cheios de suposições?
Conta nos dedos, mas
nos seus cálculos perde
a razão de contar,
razão de ter sonhado,
razão de estar ali,
de escrúpulos inerte,
e de ser homem, vivo
sem ser convidado.
Em: “Poesias” (1970)
Referência:
ROY, Claude. Le
poseur de questions / O perguntador. Tradução de Mário Laranjeira. In: LARANJEIRA, Mário (Seleção, tradução e introdução). Poetas de França hoje: 1945-1995. São Paulo, SP: Edusp, 1996. p.
187.
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