O poeta cubano desdenha do discurso
oficial acerca das medidas que os governos adotam, ao argumento de que os “tempos
são difíceis”, mas que, de fato, não passam de um modo para cercear a liberdade
ou avançar sobre os bens ou a renda de seus compatrícios.
Você quer um exemplo: esse mar de
propaganda do governo federal pátrio, fornecendo muito dinheiro à mídia
golpista que o apoiou, sobre a mais do que necessária reforma da “previdência
social”, quando o que, de fato, se observa nos números é um déficit na “seguridade social”!
J.A.R. – H.C.
Heberto Padilla
(1932-2000)
En Tiempos Difíciles
A aquel hombre le pidieron
su tiempo
para que lo juntara
al tiempo de la Historia.
Le pidieron las
manos,
porque para una época
difícil
nada hay mejor que un
par de buenas manos.
Le pidieron los ojos
que alguna vez
tuvieron lágrimas
para que contemplara
el lado claro
(especialmente el
lado claro de la vida)
porque para el horror
basta un ojo de asombro.
Le pidieron sus
labios
resecos y cuarteados
para afirmar,
para erigir, con cada
afirmación, un sueño
(el-alto-sueño);
le pidieron las
piernas,
duras y nudosas,
(sus viejas piernas
andariegas)
porque en tiempos
difíciles
¿algo hay mejor que un
par de piernas
para la construcción
o la trinchera?
Le pidieron el bosque
que lo nutrió de niño,
con su árbol
obediente.
Le pidieron el pecho,
el corazón, los hombros.
Le dijeron
que eso era
estrictamente necesario.
Le explicaron después
que toda esta
donación resultaría inútil
sin entregar la
lengua,
porque en tiempos
difíciles
nada es tan útil para
atajar el odio o la mentira.
Y finalmente le
rogaron
que, por favor,
echase a andar,
porque en tiempos
difíciles
ésta es, sin duda, la
prueba decisiva.
Ancião Crepuscular
(Salvador Dalí:
artista espanhol)
Em Tempos Difíceis
Pediram àquele homem
seu tempo,
para que o juntasse
ao tempo da história;
pediram-lhe suas
mãos,
pois para uma época
difícil
não há nada melhor
que um par de boas mãos.
Pediram-lhe os olhos
que outrora tiveram
lágrimas
para que contemplasse
o lado claro,
(especialmente o lado
claro da vida),
pois para o horror
basta um olho de assombro.
Pediram-lhe seus lábios
ressecados e rachados
para afirmar,
para edificar, com
cada afirmação, um sonho
(o-alto-sonho);
pediram-lhe as pernas
duras e nodosas
(suas velhas pernas
andarilhas),
pois, em tempos
difíceis,
há algo melhor que um
par de pernas
para a construção ou
para a trincheira?
Pediram-lhe o bosque
que o nutriu quando criança,
com sua árvore
obediente.
Pediram-lhe o peito,
o coração, os ombros.
Disseram-lhe
que isso era
estritamente necessário.
Explicaram-lhe depois
que tudo o que doara
seria inútil
sem que entregasse a
língua,
pois em tempos
difíceis
nada é tão útil para
interceptar o ódio ou a mentira.
E finalmente lhe
rogaram
que, por favor,
começasse a andar,
pois em tempos
difíceis
esta é, sem dúvida, a
prova decisiva.
Referência:
PADILLA, Heberto. En tiempos difíciles
/ Em tempos difíceis. Tradução de Nelson Ascher. In: ASCHER, Nelson (Tradução e
Organização). Poesia alheia: 124 poemas traduzidos. Rio de Janeiro, RJ:
Imago, 1998. Em espanhol: p. 242 e 244; em português: p. 243 e 245. (Coleção
“Lazuli”)
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