Neste refinado poema, o tema da morte é
abordado de uma forma assaz abstrata, conceitual, quase como uma prédica
dominical, sem deixar de fluir com naturalidade, em meio à lírica surrealista
que o autor adota.
O eu lírico se reporta aos fogos que o
saudarão no momento de sua partida para a eternidade, e depois de um longo
silêncio que se compara a um feixe de luz de uma estrela já extinta, a cortar o
domínio espaço x tempo, não mais estará preso às contingências deste plano.
Então o canto da corruíra pontuará nos
ares após um episódio diluviano: aqui estará o poeta diante do sagrado, curvando-se
ante a inefabilidade de todas as tentativas para se compendiar o que quer que
sejam a vida, a morte e o divino.
J.A.R. – H.C.
W. S. Merwin
(n. 1927)
For the Anniversary
of My Death
Every year without
knowing it I have passed the day
When the last fires
will wave to me
And the silence will
set out
Tireless traveler
Like the beam of a
lightless star
Then I will no longer
Find myself in life
as in a strange garment
Surprised at the
earth
And the love of one
woman
And the shamelessness
of men
As today writing
after three days of rain
Hearing the wren sing
and the falling cease
And bowing not
knowing to what
Caminho Sinalizado
(James Coleman: artista
norte-americano)
Para o Aniversário de
Minha Morte
A cada ano sem o
saber tenho passado pelo dia
Em que os últimos
fogos me saudarão
E o silêncio aflorará
Viajante incansável
Como o feixe de uma
estrela sem luz
Então já não me
Encontrarei em vida
como numa roupa estranha
Surpreendido pela
terra
O amor de uma mulher
E a indignidade dos
homens
Como hoje a escrever
após três dias de chuva
Ouvindo o canto da corruíra
e o cessar do vendaval
E a inclinar-me sem
saber ante o quê
Referência:
MERWIN, W. S. For the anniversary of my
death. In: McCLATCHY, J. D. (Ed.). The vintage book of contemporary american poetry. 2nd ed. New York,
NY: Vintage Books (A Division of Random House Inc.), march 2003. p.
258-259.
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