Dove, segundo se divulga, uma das
poetisas preferidas do ex-presidente norte-americano Barack Obama, tenta
capturar a essência do jazz, por meio da performance de improviso de uma de
suas maiores representantes: Billie Holiday.
Vê-se no poema a indissimulável conexão
entre palavra e som, poesia e melodia, para descrever a cantora do ritmo negro
por excelência e suas dramáticas experiências de vida, com altos e baixos que
se metaforizam na singularidade de sua própria voz inimitável, carregada de
luzes e sombras: um canário confinado numa gaiola!
J.A.R. – H.C.
Rita Dove
(n. 1952)
Canary
For Michael S. Harper
Billie Holiday’s
burned voice
had as many shadows
as lights,
a mournful candelabra
against a sleek piano,
the gardenia her
signature under that ruined face.
(Now you’re cooking,
drummer to bass,
magic spoon, magic
needle.
Take all day if you
have to
with your mirror and
your bracelet of song.)
Fact is, the
invention of women under siege
has been to sharpen
love in the service of myth.
If you can’t be free,
be a mystery.
Aves Escapando da
Gaiola
(Jo Frederiks:
artista australiana)
Canário
Para Michael S.
Harper
A voz inflamada de
Billie Holiday
possuía tanto sombras
quanto luzes,
um lúgubre candelabro
contra um piano lustroso,
sua rubrica a gardênia
sob aquele rosto arruinado.
(Agora muito te esmeras, do baterista ao baixo,
colher mágica, mágica
agulha.
Toma todo o dia se te
aprouver
com teu espelho e teu
bracelete de canto.)
O fato é que a
invenção das mulheres sob assédio
tem servido para
aguçar o amor a serviço do mito.
Se não podes ser
livre, sê um mistério.
Referência:
DOVE, Rita. Canary. In: McCLATCHY, J.
D. (Ed.). The vintage book of contemporary american poetry. 2nd ed. New York,
NY: Vintage Books (A Division of Random House Inc.), march 2003. p.
560.
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