No excerto IX do poema abaixo
identificado, Stevens atém-se ao movimento do poema entre o particular e o geral,
o imanente e o transcendente. É o linguajar da vulgata que ele procura, um modo
peculiar da fala, quer dizer, a peculiar potência do geral.
Se o poema oscila entre o absurdo ou o
sem-sentido da linguagem poética e o absurdo da fala comum, ou se é ambos ao
mesmo tempo, tal é a perplexidade que remanesce. Seja como for, em sua forma
característica de discurso, o poeta é um porta-voz que tenta alcançar
significados jucundos para além do próprio discurso.
J.A.R. – H.C.
Wallace Stevens
(1879-1955)
Notes Toward a
Supreme Fiction
It Must Change
IX
The poem goes from
the poet’s gibberish to
The gibberish of the
vulgate and back again.
Does it move to and
fro or is it of both
At once? Is it a
luminous flittering
Or the concentration
of a cloudy day?
Is there a poem that
never reaches words
And one that chaffers
the time away?
Is the poem both
peculiar and general?
There’s a meditation
there, in which there seems
To be an evasion, a
thing not apprehended or
Not apprehended well.
Does the poet
Evade us, as in a
senseles element?
Evade, this hot,
dependent orator,
The spokesman at our
bluntest barriers,
Exponent by a form of
speech, the speaker
Of a speech only a
little of the tongue?
It is the gibberish
of the vulgate that he seeks
He tries by a
peculiar speech to speak
The peculiar potency
of the general,
To compound the imagination’s
Latin with
The lingua franca et
jocundissima.
In: “Transport to
Summer” (1947)
Flores de Verão e
Montanhas Distantes
(Stephen Darbishire:
artista inglês)
Apontamentos para uma
Ficção Suprema
Deve Mudar
IX
O poema oscila entre
a algaravia
Do poeta e a do vernáculo.
Será
Que vai de um ao
outro ou é dos dois
Ao mesmo tempo? É
luminoso esvoaçar
Ou é concentração de
um dia sem sol?
Há um poema que
jamais chega à palavra
E outro tagarela? O
poema é ao mesmo tempo
Peculiar e geral?
Aqui reside
Uma meditação, talvez
até
Uma evasão, algo não
apreendido
Ou mal apreendido. O
poeta
Nos escapa em meio ao
sem-sentido?
Este orador intenso e
dependente,
Porta-voz em nossas
mais brutas barreiras,
Expoente por um modo
de dizer, falante
De uma fala que é da
língua só um pouco?
Ele busca é a
algaravia do vernáculo,
E com fala peculiar
tenta exprimir
A peculiar potência
do geral,
Fundir o latim da
imaginação
Com a língua franca
et jocundissima.
Em: “Transporte para
o Verão” (1947)
Referência:
STEVENS, Wallace. The poem goes... / O
poema oscila... Tradução de Paulo Henriques Britto. In: __________. Poemas.
Seleção, tradução e introdução de Paulo Henriques Britto. São Paulo, SP:
Companhia das Letras, 1987. Em inglês: p. 146 e 148; em português: p. 147 e
149.
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