O político e poeta piauiense Álvaro
Pacheco teoriza sobre os poetas, certamente com conhecimento de causa (rs): os
vates são frios e incapazes do amor. Por trás de seus devaneios e truques
semânticos, conseguem disfarçar essa frieza e as paixões que os devoram.
Observe-se que Pacheco menciona alguns
poetas num rol inusitado. Afinal, não consta que Cristo e Van Gogh fossem
poetas. Se no poema emergem os seus nomes é porque, no sentido lato proposto
pelo autor, poeta é todo aquele capaz de elucubrar “as ficções e os amores
coletivos”. E então? Cristo e Van Gogh chegaram a tanto?!
J.A.R. – H.C.
Álvaro Pacheco
(n. 1933)
Os Poetas
Os poetas
como os profetas
têm o coração frio
e são
incapazes do amor.
Por isso Ezra Pound,
Fernando Pessoa, Cristo,
Vincent Van Gogh – os
poetas
elucubram as ficções
e os amores coletivos
–
se intrometem nas
revoluções
e falam demais – por
isso
têm o coração frio
para suportar as
pessoas
e as suas aflições do
abismo,
o sofrimento e a
morte,
a matéria-prima
dos devaneios e
truques semânticos
com que disfarçam
a frieza e o sem fim
das paixões que os
atormentam
como aos profetas.
Rio, julho 86.
O Pub dos Poetas
(Alexander Moffat:
pintor britânico)
Referência:
PACHECO, Álvaro. Os poetas. In:
__________. A geometria dos ventos. Estudo pela Profª Teresa Velho. Rio
de Janeiro, RJ: Record, 1992. p. 102.
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