Navego e navego por mares de palavras
muito bem declinadas, por poemas e discursos maravilhosamente construídos, mas
isso, que é bastante, não me é suficiente – e bem mais eu quero! (Será que
houve em minha alocução plágio velado ou inconsciente de algum poema de Álvaro
de Campos? rs).
Por isso sempre regresso às origens,
aos autore(a)s que me foram apresentado(a)s ainda no começo da adolescência,
por professores com quem hoje já não topamos por aí, meus queridos e queridas
onde quer que se encontrem, possivelmente abraçados ao Eterno...
E claro, Cecília Meireles está no rol
desses autore(a)s: a sua poesia me cala fundo n’alma, porque eu a expressar o
que me vai no interno não o faria tão bem quanto ela. Como naquela letra do
compositor Tunai, em melodia de Milton Nascimento (com interpolações minhas): “Certas canções que ouço [como certos
poemas que leio] / Cabem tão dentro de mim / Que perguntar carece / Como não
fui eu que as [os] fiz?”.
Certas Canções
(Tunais & Milton Nascimento)
J.A.R. – H.C.
Cecília Meireles
(1901-1964)
Noções
Entre mim e mim, há
vastidões bastantes
para a navegação dos
meus desejos afligidos.
Descem pela água
minhas naves revestidas de espelhos.
Cada lâmina arrisca
um olhar, e investiga o elemento
que a atinge.
Mas, nesta aventura
do sonho exposto à correnteza,
só recolho o gosto
infinito das respostas que não se
encontram.
Virei-me sobre a
minha própria existência, e
contemplei-a.
Minha virtude era
esta errância por mares
contraditórios,
e este abandono para
além da felicidade e da beleza.
Ó meu Deus, isto é a
minha alma:
qualquer coisa que
flutua sobre este corpo efêmero e
precário,
como o vento largo do
oceano sobre a areia passiva e
inúmera...
A Corrente do Golfo
(Winslow Homer:
pintor norte-americano)
Referência:
MEIRELES, Cecília. Noções. In:
__________. Cecília de bolso: uma antologia poética. Organização e
apresentação de Fabrício Carpinejar. Porto Alegre, RS: L&PM, 2014. p. 35-36.
(Coleção ‘L&PM Pocket; v. 700)
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