Neste poema de Whitman “Native moments”, “native” pode significar um par
de coisas: inato, mas também simples, natural, sem afetação – quiçá
incivilizado. Mas o tradutor brasileiro, Luciano Alves Meira, preferiu associar
o termo à pureza de sentimentos que tais momentos revelam.
Pela leitura das palavras do poeta, vê-se que está a se referir a
momentos incontestes de desejo sexual, instintivos para cada um de nós –
inerentes, ingênitos, ínsitos à natureza do ser humano –, impossíveis de serem
negados.
Trata-se de um poema, pois, desafiador para a época em que escrito, pois
Whitman dirige-se a escravos, a prostitutas e a outras espécies de párias
sociais, àqueles que acreditam em “delícias soltas”, aos jovens que se envolvem
em “orgias da meia-noite” – a quem promete tornar-se o poeta deles, porque
pretende incluir a todos em sua poesia, em especial, como se vê, os que a
sociedade mira com um olhar de menoscabo.
J.A.R. – H.C.
Walt Whitman
(1819-1892)
Native moments
Native moments! when
you come upon me – Ah you are here now!
Give me now
libidinous joys only!
Give me the drench of
my passions! Give me life coarse and rank!
To-day, I go consort
with nature’s darlings – to-night too;
I am for those who
believe in loose delights – I share the midnight orgies
of young men;
I dance with the
dancers, and drink with the drinkers;
The echoes ring with
our indecent calls;
I take for my love
some prostitute – I pick out some low person for my
dearest friend,
He shall be lawless,
rude, illiterate – he shall be one condemn’d by others
for deeds done;
I will play a part no
longer – Why should I exile myself from my
companions?
O you shunn’d persons!
I at least do not shun you,
I come forthwith in
your midst – I will be your poet,
I will be more to you
than to any of the rest.
Autorretrato no Círculo de Amigos de Mântua
(Peter Paul Rubens:
pintor flamengo)
Momentos puros
Momentos puros –
quando vens sobre mim – ó estás aqui agora,
Dá-me agora prazeres
libidinosos tão-somente,
Dá-me a poção de
minhas paixões, dá-me a vida áspera e viçosa,
Hoje eu me consorcio
aos amores da Natureza, esta noite também,
Estou com aqueles que
acreditam em delícias licenciosas,
compartilho das
orgias dos jovens à meia-noite,
Danço com os
dançarinos e bebo com os beberrões,
Os ecos fazemos soar
com nossos gritos indecentes, escolho uma
pessoa rasteira para
ser o meu amigo mais querido,
Ele há de ser sem
lei, rude, analfabeto, há de ser alguém condenado
pelos outros por seus
feitos,
Não mais estarei apartado,
por que deveria eu me exilar de meus
companheiros?
Ó tu, que evitas as
pessoas, pelo menos eu não te evito,
Avanço para o centro
de onde estás, serei teu poeta,
Serei mais para ti do
que para qualquer outro.
Referências:
Em Inglês
WHITMAN, Walt. Native moments. In:
PINTER, Harold; GODBERT, Geoffrey; ASTBURY, Anthony (Sels.). 100 poems by 100 poets: an anthology.
New York, NY: Grove Press, 1986. p 162.
Em Português
WHITMAN, Walt. Momentos puros. Tradução
de Luciano Alves Meira. In: __________. Folhas
de relva. Texto integral. Tradução e introdução de Luciano Alves Meira. 2.
ed. São Paulo (SP): Martin Claret, 2012. p. 126-127. (Série Ouro: Coleção A
Obra-Prima de Cada Autor, n. 42)
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