Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 6 de março de 2017

Arthur Hugh Clough - O Último Decálogo

Clough, poeta inglês, instila, já na primeira metade do século XIX, o mais poderoso veneno em sua reescrita dos dez mandamentos bíblicos: seu moderno decálogo retrata – sarcasticamente, maquiavelicamente até – os traços presentes no seio da sociedade inglesa de seu tempo.

O poema, de fato, é uma feroz denúncia da hipocrisia vigente no ‘ethos’ do mundo capitalista então em expansão: prescrições pouco credíveis da religião institucionalizada, vis-à-vis o apego da sociedade vitoriana pelo dinheiro. Ou seja, nada tão diferente do que ocorre nos dias de hoje.

J.A.R. – H.C.

Arthur Hugh Clough
(1819-1861)

The Latest Decalogue

Thou shalt have one God only; who
Would tax himself to worship two?
God’s image nowhere shalt thou see,
Save haply in the currency:
Swear not at all; since for thy curse
Thine enemy is not the worse:
At church on Sunday to attend
Will help to keep the world thy friend:
Honor thy parents; that is, all
From whom promotion may befall:
Thou shalt not kill; but needst not strive
Officiously to keep alive:
Adultery it is not fit
Or safe, for women, to commit:
Thou shalt not steal; an empty feat,
When ’tis so lucrative to cheat:
False witness not to bear be strict;
And cautious, ere you contradict.
Thou shalt not covet; but tradition
Sanctions the keenest competition.

Moisés e os Dez Mandamentos
(Rembrandt: pintor holandês)

O Último Decálogo

Terás tão somente um Deus;
quem se colocaria à prova a si mesmo
cultuando dois?
A imagem de Deus em nenhuma parte
hás de ver, salvo por acaso na moeda.
Não blasfemarás de jeito algum, já que,
desditosamente, o teu inimigo não é o
pior dentre todos.
Frequentar a igreja aos domingos te ajudará
a manter a amizade do mundo.
Honra os teus pais, ou melhor, todos os que
ajudem em tua promoção.
Não matarás, embora não necessites de te
esforçar oficiosamente para manter a vida.
Não é apropriado ou seguro, às mulheres,
praticar o adultério.
Não roubarás – uma vã proeza – quando
enganar é tão mais lucrativo.
Não há circunscrição ou previdência no falso
testemunho, antes que o contradigas.
Não cobiçarás aquilo que pertence aos outros,
ainda que a tradição sancione a mais
acirrada competição.

Referência:

CLOUGH, Arthur Hugh. The latest decalogue. In: PINTER, Harold; GODBERT, Geoffrey; ASTBURY, Anthony (Sels.). 100 poems by 100 poets: an anthology. New York, NY: Grove Press, 1986. p. 36.

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