Neste poeminha, cujo título, uma vez traduzido, significaria “blues do
conhaque”, Kerouac expressa sua aversão aos homens no exercício de seus “podres
poderes”: a Justiça e a Democracia nada são quando reacionários interesses
estão em jogo!
A Política, desse modo, se transforma em estorvo. E o que se vê, por
fim, é o aviltamento da vontade do povo, manipulada e submissa, sob um manto
hipócrita de pacificação social. Com essa justiça e democracia (assim mesmo,
com letras minúsculas) instaladas neste torrão, conjugadas a uma mídia
hiper-hipócrita, acabo por me sentir como Kerouac: ridículo sobre a Terra!
J.A.R. – H.C.
Jack Kerouac
(1922-1969)
Cognac Blues
You gets your just dues in
Heaven – Heaven’ll
be indifferent to this
Indifferent dog
(Yet, honest indifference
were better than cant)
…really
When I hear pious
bullshit about Justice
& Democracy and I know
the hypocrites are lying
in their false teeth
I’m not indifferent to God
I’m indifferent to
me-on-earth
I cant think of anything
more ridiculous than me
on earth –
Really!
O “Inferno”, Canto 23:
Visita ao Colegiado dos Hipócritas
(Gustave Doré: gravurista francês)
Cognac Blues
Apenas no Céu você
será recompensado – Céu que
se mostrará indiferente a este
indiferente cão
(Ainda que a indiferença honesta
seja preferível à hipocrisia)
…de verdade
Quando ouço pias
sandices sobre a Justiça e a
Democracia e detecto
que os hipócritas estão mentindo
por trás de seus dentes postiços
Não sou indiferente a Deus
Sou indiferente a mim mesmo
sobre a Terra
Não sou capaz de pensar em
nada mais ridículo do que eu mesmo
sobre a Terra –
Sério!
Referência:
KEROUAC, Jack. Cognac Blues. In: __________. Pomes all sizes. Introduction by Allen Ginsberg. San Francisco, CA:
City Lights Books, 1992. p. 161. (‘The pocket poets series’; v. 48).
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