Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 4 de março de 2017

Aurélio Buarque de Holanda - Amar-te

Num estilo fluído, sem impor maiores obstáculos à leitura e à interpretação, este soneto do reputado dicionarista alagoano permite associações à forma de amor incondicional, profundamente humano, sem fixação excessiva em sua componente sensual.

Um amor assim é para poucos: a arte da convivência e da tolerância com os semelhantes está em baixa por estas paragens. A par de toda a evolução tecnológica, o ser humano ainda não se cultivou o suficiente para tornar a vida sobre a terra menos áspera.

J.A.R. – H.C.

Aurélio Buarque de Holanda
(1910-1989)

Amar-te

Amar-te – não por gozo da vaidade,
Não movido de orgulho ou de ambição,
Não à procura da felicidade,
Não por divertimento à solidão.

Amar-te – não por tua mocidade
– Risos, cores e luzes de verão –
E menos por fugir à ociosidade,
Como exercício para o coração.

Amar-te por amar-te: sem agora,
Sem amanhã, sem ontem, sem mesquinha
Esperança de amor, sem causa ou rumo.

Trazer-te incorporada vida fora,
Carne de minha carne, filha minha,
Viver do fogo em que ardo e me consumo.

Paixão Noturna
(Leonid Afremov: pintor israelense)

Referência:

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Amar-te. In: __________. Seleta em prosa e verso. Organização e notas de Paulo Rónai. Rio de Janeiro, RJ: José Olympio; Brasília, DF: Instituto Nacional do Livro, 1979. Nota 5, p. 189.

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