Um céu azul para sempre inatingível: o fantasma de Sócrates paira sobre
a mente do poeta e o faz compreender melhor a dimensão do amor e o seu poder de
nos levar às esferas do “Noumenon”, esse clímax intelectual infenso ao
entendimento de que a verdade possa estar fundada em absolutos passíveis de ser
capturados pelos sentidos.
Eis aqui o mundo enquanto caverna, a surgir do diálogo de Sócrates com
Glauco: somos capazes de formular conceitos por intermédio de nossa experiência
perceptual de objetos físicos. Mas, segundo o filósofo, incorreremos em erro se
pensarmos que tais conceitos se encontram no mesmo nível das coisas que somos
capazes de perceber...
J.A.R. – H.C.
Delmore Schwartz
(1913-1966)
Socrates’ Ghost Must Haunt Me Now
Socrates’ ghost must
haunt me now,
Notorious death has
let him go,
He comes to me with a
clumsy bow,
Saying in his disused
voice,
That I do not know I
do not know,
The mechanical whims
of appetite
Are all that I have
of conscious choice,
The butterfly caged
in electric light
Is my only day in the
world’s great night,
Love is not love, it
is a child
Sucking his thumb and
biting his lip,
But grasp it all,
there may be more!
From the topless sky
to the bottomless floor
With the heavy head
and the fingertip:
All is not blind,
obscene, and poor.
Socrates stands by me
stockstill,
Teaching hope to my flickering
will,
Pointing to the sky’s
inexorable blue
– Old Noumenon (*),
come true, come true!
Terra
(Jon Hrubesch:
artista norte-americano)
O fantasma de Sócrates deve me rondar agora
O fantasma de
Sócrates deve me rondar agora,
A famigerada morte há
de deixá-lo partir,
Ele vem até mim com
uma desairosa reverência,
A articular com sua desusada
voz,
Aquilo que eu
desconheço, eu desconheço,
Os mecânicos
caprichos do apetite
São tudo o que tenho
de escolha consciente,
A borboleta capturada
pela luz elétrica
É o meu único dia na
grande noite do mundo,
O amor não é amor, é
uma criança a
Sugar o dedo e a
morder o próprio lábio,
Mas compreender é
tudo, pode haver algo mais!
Do mais alto dos céus
aos abismos ilimitados da terra
Com a cabeça pesada e
a ponta do dedo:
Tudo não é carência
de visão, obscenidade e miséria.
Sócrates pôs-se
diante de mim completamente imóvel,
Aconselhando
esperança ao meu vacilante arbítrio,
Apontando para o azul
inexorável do céu
– Vetusto Noumenon,
feito verdade, feito verdade!
Nota:
(*) Trata-se de conceito que, na
filosofia Kantiana, designa uma coisa como ela é em si mesma, enquanto distinta
da coisa como ela é cognoscível por meio dos sentidos, pela via de seus
atributos fenomênicos.
Referência:
SCHWARTZ, Delmore. Socrates’
ghost must haunt me now. In: BENÉT, William Rose; AIKEN, Conrad (Eds.). An anthology of famous english and american
poetry. New York, NY: Random House Inc., 1945. p. 921. (‘The Modern
Library’)
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