Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 10 de março de 2017

Delmore Schwartz - O fantasma de Sócrates deve me rondar agora

Um céu azul para sempre inatingível: o fantasma de Sócrates paira sobre a mente do poeta e o faz compreender melhor a dimensão do amor e o seu poder de nos levar às esferas do “Noumenon”, esse clímax intelectual infenso ao entendimento de que a verdade possa estar fundada em absolutos passíveis de ser capturados pelos sentidos.

Eis aqui o mundo enquanto caverna, a surgir do diálogo de Sócrates com Glauco: somos capazes de formular conceitos por intermédio de nossa experiência perceptual de objetos físicos. Mas, segundo o filósofo, incorreremos em erro se pensarmos que tais conceitos se encontram no mesmo nível das coisas que somos capazes de perceber...

J.A.R. – H.C.

Delmore Schwartz
(1913-1966)

Socrates’ Ghost Must Haunt Me Now

Socrates’ ghost must haunt me now,
Notorious death has let him go,
He comes to me with a clumsy bow,
Saying in his disused voice,
That I do not know I do not know,
The mechanical whims of appetite
Are all that I have of conscious choice,
The butterfly caged in electric light
Is my only day in the world’s great night,
Love is not love, it is a child
Sucking his thumb and biting his lip,
But grasp it all, there may be more!
From the topless sky to the bottomless floor
With the heavy head and the fingertip:
All is not blind, obscene, and poor.
Socrates stands by me stockstill,
Teaching hope to my flickering will,
Pointing to the sky’s inexorable blue
– Old Noumenon (*), come true, come true!

Terra
(Jon Hrubesch: artista norte-americano)

O fantasma de Sócrates deve me rondar agora

O fantasma de Sócrates deve me rondar agora,
A famigerada morte há de deixá-lo partir,
Ele vem até mim com uma desairosa reverência,
A articular com sua desusada voz,
Aquilo que eu desconheço, eu desconheço,
Os mecânicos caprichos do apetite
São tudo o que tenho de escolha consciente,
A borboleta capturada pela luz elétrica
É o meu único dia na grande noite do mundo,
O amor não é amor, é uma criança a
Sugar o dedo e a morder o próprio lábio,
Mas compreender é tudo, pode haver algo mais!
Do mais alto dos céus aos abismos ilimitados da terra
Com a cabeça pesada e a ponta do dedo:
Tudo não é carência de visão, obscenidade e miséria.
Sócrates pôs-se diante de mim completamente imóvel,
Aconselhando esperança ao meu vacilante arbítrio,
Apontando para o azul inexorável do céu
– Vetusto Noumenon, feito verdade, feito verdade!

Nota:

(*) Trata-se de conceito que, na filosofia Kantiana, designa uma coisa como ela é em si mesma, enquanto distinta da coisa como ela é cognoscível por meio dos sentidos, pela via de seus atributos fenomênicos.

Referência:

SCHWARTZ, Delmore. Socrates’ ghost must haunt me now. In: BENÉT, William Rose; AIKEN, Conrad (Eds.). An anthology of famous english and american poetry. New York, NY: Random House Inc., 1945. p. 921. (‘The Modern Library’)

Nenhum comentário:

Postar um comentário