Já aqui postamos um
belo poema de Ferreira Gullar, musicado pelo cantor Fagner, no álbum de 1981.
Agora o repetimos com um finíssimo soneto da poetisa portuguesa Florbela
Espanca, abaixo transcrito.
A arte de Florbela é quase toda um
espasmo de erotismo, feminilidade e panteísmo, em meio a uma vida conturbada,
tanto mais por sua rejeição aos costumes provinciais e à sensação de perda e
abandono ao longo de sua curta vida.
J.A.R. – H.C.
Florbela Espanca
(1894-1930)
Fumo
Longe de ti são ermos
os caminhos,
Longe de ti não há
luar nem rosas,
Longe de ti há noites
silenciosas,
Há dias sem calor,
beirais sem ninhos!
Meus olhos são dois
velhos pobrezinhos
Perdidos pelas noites
invernosas...
Abertos, sonham mãos
cariciosas,
Tuas mãos doces,
plenas de carinhos!
Os dias são outonos:
choram... choram...
Há crisântemos roxos
que descoram...
Há murmúrios dolentes
de segredos...
Invoco o nosso sonho!
Estendo os braços!
E ele é, ó meu Amor,
pelos espaços,
Fumo leve que foge
entre os meus dedos!...
Em: Livro de “Sóror
Saudade” (1923)
“Fumo”: musicado e
interpretado por Fagner
(Álbum de 1982)
Referência:
ESPANCA, Florbela. Fumo. In:
__________. Poemas. Estudo introdutório, organização e notas de Maria
Lúcia Dal Farra. 1. ed., 5. tiragem (2010). São Paulo, SP: Martins Fontes,
1996. p. 173.
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Esse poema me emociona, chega ser perturbador, porque invoca um desejo por estar longe do seu amor! Amo!
ResponderExcluirPrezado(a): sem dúvida um belo soneto, como resumo de todas as sensações de se estar afastado(a) de quem se ama.
ExcluirAtenciosamente,
João A. Rodrigues