Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 25 de março de 2017

Florbela Espanca - Fumo

aqui postamos um belo poema de Ferreira Gullar, musicado pelo cantor Fagner, no álbum de 1981. Agora o repetimos com um finíssimo soneto da poetisa portuguesa Florbela Espanca, abaixo transcrito.

A arte de Florbela é quase toda um espasmo de erotismo, feminilidade e panteísmo, em meio a uma vida conturbada, tanto mais por sua rejeição aos costumes provinciais e à sensação de perda e abandono ao longo de sua curta vida.

J.A.R. – H.C.

Florbela Espanca
(1894-1930)

Fumo

Longe de ti são ermos os caminhos,
Longe de ti não há luar nem rosas,
Longe de ti há noites silenciosas,
Há dias sem calor, beirais sem ninhos!

Meus olhos são dois velhos pobrezinhos
Perdidos pelas noites invernosas...
Abertos, sonham mãos cariciosas,
Tuas mãos doces, plenas de carinhos!

Os dias são outonos: choram... choram...
Há crisântemos roxos que descoram...
Há murmúrios dolentes de segredos...

Invoco o nosso sonho! Estendo os braços!
E ele é, ó meu Amor, pelos espaços,
Fumo leve que foge entre os meus dedos!...

Em: Livro de “Sóror Saudade” (1923) 

“Fumo”: musicado e interpretado por Fagner
(Álbum de 1982)

Referência:

ESPANCA, Florbela. Fumo. In: __________. Poemas. Estudo introdutório, organização e notas de Maria Lúcia Dal Farra. 1. ed., 5. tiragem (2010). São Paulo, SP: Martins Fontes, 1996. p. 173.

2 comentários:

  1. Esse poema me emociona, chega ser perturbador, porque invoca um desejo por estar longe do seu amor! Amo!

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    1. Prezado(a): sem dúvida um belo soneto, como resumo de todas as sensações de se estar afastado(a) de quem se ama.
      Atenciosamente,
      João A. Rodrigues

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