Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 15 de março de 2017

Guilherme de Almeida - Simplicidade, Felicidade...

Um desejo de simplicidade e de felicidade. Sem maiores preocupações. Como o ar, as rosas, a árvore, o rio. Como a natureza, em suma, num fluir que não se turba pelo efeito dos acontecimentos ou da interpretação que deles se faça.

Assim é a vida vivida em obediência ao próprio ser: alcança-se a felicidade enquanto corolário de um abraço às coisas sem mácula, impolutas. Apanhá-las, abraçá-las, multiplicá-las e deixá-las ir, sem qualquer apego, pois tudo é transitoriedade...

J.A.R. – H.C.

Guilherme de Almeida
(1890-1969)

Simplicidade, Felicidade…

Simplicidade… Simplicidade…
Ser como as rosas, o céu sem fim,
a árvore, o rio… Por que não há de
ser toda gente também assim?

Ser como as rosas: bocas vermelhas
que não disseram nunca a ninguém
que têm perfumes… Mas as abelhas
e os homens sabem o que elas têm!

Ser como o espaço, que é azul de longe,
de perto é nada… Mas que o vê
– árvores, aves, olhos de monge… –
busca-o sem mesmo saber porque.

Ser como o rio cheio de graça,
que move o moinho, dá vida ao lar,
fecunda as terras… E, rindo, passa,
despretensioso, sempre a cantar.

Ou ser como a árvore: aos lavradores
dá lenha e fruto, dá sombra e paz;
dá ninho às aves; ao inseto, flores…
Mas nada sabe do bem que faz.

Felicidade – sonho sombrio!
Feliz é o simples que sabe ser
como o ar, as rosas, a árvore, o rio:
simples, mas simples sem o saber!

Flores Refletindo
(Julie Gilbert Pollard: pintora norte-americana)

Referência:

ALMEIDA, Guilherme de Almeida. Simplicidade, felicidade... In: __________. Simplicidade: versos escritos entre 1910 e 1916. São Paulo, SP: Companhia Editora Nacional, 1929. p. 17-21.

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