Um desejo de simplicidade e de felicidade. Sem maiores preocupações.
Como o ar, as rosas, a árvore, o rio. Como a natureza, em suma, num fluir que
não se turba pelo efeito dos acontecimentos ou da interpretação que deles se
faça.
Assim é a vida vivida em obediência ao próprio ser: alcança-se a
felicidade enquanto corolário de um abraço às coisas sem mácula, impolutas.
Apanhá-las, abraçá-las, multiplicá-las e deixá-las ir, sem qualquer apego, pois
tudo é transitoriedade...
J.A.R. – H.C.
Guilherme de Almeida
(1890-1969)
Simplicidade, Felicidade…
Simplicidade…
Simplicidade…
Ser como as rosas, o
céu sem fim,
a árvore, o rio… Por
que não há de
ser toda gente também
assim?
Ser como as rosas:
bocas vermelhas
que não disseram
nunca a ninguém
que têm perfumes… Mas
as abelhas
e os homens sabem o
que elas têm!
Ser como o espaço,
que é azul de longe,
de perto é nada… Mas
que o vê
– árvores, aves,
olhos de monge… –
busca-o sem mesmo
saber porque.
Ser como o rio cheio
de graça,
que move o moinho, dá
vida ao lar,
fecunda as terras… E,
rindo, passa,
despretensioso,
sempre a cantar.
Ou ser como a árvore:
aos lavradores
dá lenha e fruto, dá
sombra e paz;
dá ninho às aves; ao
inseto, flores…
Mas nada sabe do bem
que faz.
Felicidade – sonho
sombrio!
Feliz é o simples que
sabe ser
como o ar, as rosas,
a árvore, o rio:
simples, mas simples
sem o saber!
Flores Refletindo
(Julie Gilbert Pollard:
pintora norte-americana)
Referência:
ALMEIDA, Guilherme de Almeida.
Simplicidade, felicidade... In: __________. Simplicidade: versos escritos entre 1910 e 1916. São Paulo, SP:
Companhia Editora Nacional, 1929. p. 17-21.
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