Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 18 de março de 2017

Paulo Teixeira - O Espírito e o Tempo

Este poema, em conjunto com os outros quatro incluídos na antologia em referência, revelam – se não se estiver deduzindo o todo equivocadamente, a partir de uma amostra não representativa do conjunto da obra do autor – um poeta afeito a cogitações de ordem existencialista.

Teixeira parece contemplar, com olhar desolador, a precariedade do espírito no transcurso do tempo, enquanto se empenha em transfigurar as tribulações repreensíveis da história humana – em especial, quem sabe?!, da história contemporânea europeia. E tudo isso por meio de um texto plástico, exploratório, elegante, algo onírico, mas antes de tudo inspirado.

J.A.R. – H.C.

Paulo Teixeira
(n. 1962)

O Espírito e o Tempo

Pudesse elevar-se o espírito acima do tempo,
ser o mundo só um espetáculo comovente,
qualquer coisa de especioso abaixo das nuvens,
onde a luz ao incidir fosse pura estesia.

Estábulo onde fechados esperamos o drama
por encenar no presente espaçoso que é nosso:
chaminés, gólgotas, campos de batalha,
domínio de prazer forense, breve e matizado

pela dor, onde, providos de um costume,
fomos instruídos em verdades que se ocultam
e sem outra instância de apelação que a morte,
em busca de conforto pelo fim do dia.

Pudesse elevar-se o espírito acima do tempo,
consigo levando nos dedos um pouco de terra queimada;
por pudor não olhasse embaixo o mundo,
já sem relógio e informes profecias,

envolto em luz espectral e fundado no que não existe.

Em: “As esperas e outros poemas” (1997)

Natureza-Morta
(Victor Bregeda: pintor russo)

Referência:

TEIXEIRA, Paulo. O espírito e o tempo. In: COSTA E SILVA, Alberto da; BUENO, Alexei (Organização e Introdução). Antologia da poesia portuguesa contemporânea: um panorama. Rio de Janeiro, RJ: Lacerda Editores, 1999. p. 445.

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