Este poema, em conjunto com os outros quatro incluídos na antologia em
referência, revelam – se não se estiver deduzindo o todo equivocadamente, a
partir de uma amostra não representativa do conjunto da obra do autor – um poeta
afeito a cogitações de ordem existencialista.
Teixeira parece contemplar, com olhar desolador, a precariedade do
espírito no transcurso do tempo, enquanto se empenha em transfigurar as tribulações repreensíveis da história humana – em especial, quem sabe?!, da
história contemporânea europeia. E tudo isso por meio de um texto plástico,
exploratório, elegante, algo onírico, mas antes de tudo inspirado.
J.A.R. – H.C.
Paulo Teixeira
(n. 1962)
O Espírito e o Tempo
Pudesse elevar-se o
espírito acima do tempo,
ser o mundo só um
espetáculo comovente,
qualquer coisa de
especioso abaixo das nuvens,
onde a luz ao incidir
fosse pura estesia.
Estábulo onde
fechados esperamos o drama
por encenar no
presente espaçoso que é nosso:
chaminés, gólgotas,
campos de batalha,
domínio de prazer
forense, breve e matizado
pela dor, onde,
providos de um costume,
fomos instruídos em
verdades que se ocultam
e sem outra instância
de apelação que a morte,
em busca de conforto
pelo fim do dia.
Pudesse elevar-se o
espírito acima do tempo,
consigo levando nos
dedos um pouco de terra queimada;
por pudor não olhasse
embaixo o mundo,
já sem relógio e
informes profecias,
envolto em luz
espectral e fundado no que não existe.
Em: “As esperas e outros poemas” (1997)
Natureza-Morta
(Victor Bregeda:
pintor russo)
Referência:
TEIXEIRA, Paulo. O espírito e o tempo. In:
COSTA E SILVA, Alberto da; BUENO, Alexei (Organização e Introdução). Antologia da poesia portuguesa
contemporânea: um panorama. Rio de Janeiro, RJ: Lacerda Editores, 1999. p.
445.
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