Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 28 de março de 2017

Claudio Daniel - Zauberbuch

O poeta, tradutor e ensaísta paulistano, cujo nome verdadeiro é Claudio Alexandre de Barros Teixeira, prestigia as alusões de Borges aos labirintos das bibliotecas e, muito especificamente, à sua obra “O Livro dos Seres Imaginários”, publicada originalmente em 1957.

O texto de Daniel, como que a ratificar as teses de Bloom sobre a influência dos antecedentes sobre os escritores contemporâneos, é pura intertextualidade, presente até mesmo no título do poema: livro de feitiços ou de magias.

J.A.R. – H.C.

Claudio Daniel
(n. 1962)

Zauberbuch

A Jorge Luis Borges

Todos
os livros
– os Sutras, o Corão,
os Vedas, o Zohar –
são enigmas:
jardins verticais,
rios insubmissos,
listras de mármore possesso;
todas as páginas
– em lâminas de argila,
pele de carneiro,
folhas de papiro
ou rubro ouro esculpido –
são impossíveis,
viscerais,
areia alucinada.
Os livros, Borges,
inventam os leitores
e os nomes
de vales, savanas, estepes
e de amplas avenidas
que ignoramos;
vivemos
essa efêmera realidade
para lermos
suas secretas linhas,
e assim
nossos filhos e netos.
Um dia, porém, os livros
– últimos demiurgos –
desaparecerão,
como o grifo (2) e o licorne (3)
e ler será apenas lenda.

1993

Em: “Yumê” (1999)

A Ponte do Tempo
(Alireza Darvish: artista iraniano)

Notas:

(1) Zauberbuch – Palavra alemã cujo significado é “Livro dos Feitiços”;
(2) Grifo – Criatura lendária com cabeça e asas de águia e corpo de leão;
(3) Licorne – Outra figura lendária; o mesmo que unicórnio ou licórnio.

Referência:

DANIEL, Claudio. Zauberbuch. In: ASCHER, Nelson et al. Poetas na biblioteca: antologia. São Paulo, SP: Fundação Memorial da América Latina, 2001. p. 72-73.

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