O poeta, tradutor e ensaísta
paulistano, cujo nome verdadeiro é Claudio Alexandre de Barros Teixeira, prestigia
as alusões de Borges aos labirintos das bibliotecas e, muito especificamente, à
sua obra “O Livro dos Seres Imaginários”, publicada originalmente em 1957.
O texto de Daniel, como que a ratificar
as teses de Bloom sobre a influência dos antecedentes sobre os escritores contemporâneos,
é pura intertextualidade, presente até mesmo no título do poema: livro de
feitiços ou de magias.
J.A.R. – H.C.
Claudio Daniel
(n. 1962)
Zauberbuch
A Jorge Luis Borges
Todos
os livros
– os Sutras, o Corão,
os Vedas, o Zohar –
são enigmas:
jardins verticais,
rios insubmissos,
listras de mármore
possesso;
todas as páginas
– em lâminas de
argila,
pele de carneiro,
folhas de papiro
ou rubro ouro
esculpido –
são impossíveis,
viscerais,
areia alucinada.
Os livros, Borges,
inventam os leitores
e os nomes
de vales, savanas,
estepes
e de amplas avenidas
que ignoramos;
vivemos
essa efêmera
realidade
para lermos
suas secretas linhas,
e assim
nossos filhos e
netos.
Um dia, porém, os
livros
– últimos demiurgos –
desaparecerão,
como o grifo (2)
e o licorne (3)
e ler será apenas
lenda.
1993
Em: “Yumê” (1999)
A Ponte do Tempo
(Alireza Darvish:
artista iraniano)
Notas:
(1) Zauberbuch – Palavra alemã cujo
significado é “Livro dos Feitiços”;
(2) Grifo – Criatura lendária com cabeça e
asas de águia e corpo de leão;
(3) Licorne – Outra figura lendária; o
mesmo que unicórnio ou licórnio.
Referência:
DANIEL, Claudio. Zauberbuch. In:
ASCHER, Nelson et al. Poetas na biblioteca: antologia. São Paulo, SP:
Fundação Memorial da América Latina, 2001. p. 72-73.
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