Um poema cujo título aponta para o presumível
objetivo da vida humana sobre a terra. E ao mencionar a figura de um Ciclope,
como Polifemo, faz lembrar a história contada por Homero na Odisseia, em cujo
enredo revela-se a trama dos gregos, em regresso de Troia, para cegá-lo e,
desse modo, poderem fugir ao seu domínio.
Aparentemente, Swenson refere-se à
superação das barreiras que, como as pedras dummondianas no meio do caminho,
hão de ser removidas pelo engenho humano, engenho esse capaz de criar armas,
sejam elas em sentido estrito, sejam outras tantas formas de ação, enquanto expedientes,
recursos, artifícios...
J.A.R. – H.C.
May Swenson
(1913-1989)
Teleology
The eyes look front
in humans.
Horse or dog could
not shoot,
seeing two sides to everything.
Fish, who never shut
their eyes,
can swim on their
sides, and see
two worlds: blunt
dark below;
above, the daggering
light.
Round as a burr, the
eye
its whole head, the
housefly
sees in a whizzing
circle.
Human double-barreled
eyes,
in their narrow blind
trained
forward, hope to
shoot and hit
– if they can find it
–
the backward-speeding
hole
in the Cyclops face
of the future.
Dois cavalos
castanhos olham os cães
por cima da porta do
estábulo
(Nora Drummond:
artista inglesa)
Teleologia
Os olhos dirigem-se para
a frente em humanos.
O cavalo ou o cão não
poderiam atirar,
vendo dois lados para
tudo.
O peixe, que os olhos
jamais fechou,
pode nadar para os
lados e ver
dois mundos: a insondável
escuridão embaixo,
e em cima, a luz contundente.
Como um carrapicho
redondo, o olho a tomar
toda a sua cabeça, a
mosca doméstica
enxerga num círculo
ciciante.
Olhos humanos de cano
duplo,
em sua estreita cegueira treinada para a
frente, esperam
atirar e acertar
– se o puderem
encontrar –
o orifício que se
apressa para trás
na face do Ciclope do
futuro.
Referência:
SWENSON, May. Teleology. In: McCLATCHY,
J. D. (Ed.). The vintage book of contemporary american poetry. 2nd ed.
New York, NY: Vintage Books (A Division of Random House Inc.), march 2003. p.
97-98.
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