Este poema do italiano Zanzotto faz remissão às histórias fantasiosas
contadas pelo Barão de Münchausen que, em tempos de modernidade, viraram um RPG
com o título “As Extraordinárias Aventuras do Barão de Münchausen”, lançado
aqui no Brasil pela distribuidora “Devir”.
Münchausen (1720-1797), para quem não o conhece, foi um militar e senhor
rural alemão que se tornou famoso por entremear, em suas narrativas de guerra,
caçadas e viagens, as mais acintosas mentiras, de forma a enredar a realidade nos
desvãos hilariantes da fantasia.
J.A.R. – H.C.
Andrea Zanzotto
(1921-2011)
Al mondo
Mondo, sii, e buono;
esisti buonamente,
fa’ che, cerca di,
tendi a, dimmi tutto,
ed ecco che io
ribaltavo eludevo
e ogni inclusione era
fattiva
non meno che ogni
esclusione;
su bravo, esisti,
non accartocciarti in
te stesso in me stesso.
Io pensavo che il
mondo così concepito
con questo
super-cadere super-morire
il mondo così
fatturato
fosse soltanto un io
male svoltolato,
fossi io, idigesto,
male fantasticante
male fantasticato mal
pagato
e non tu, bello, non
tu “santo” e “santificato”
un po’ più in là, da
lato, da lato.
Fa’ di (ex-de-ob
etc.)-sistere
e oltre tutte le
preposizioni note e ignote,
abbi qualche chance,
fa’ buonamente un po’;
il congegno abbia
gioco.
Su, bello, su.
Su, Münchausen.
Estrela-Alvo
(Vladimir Kush:
pintor russo)
Ao mundo
Mundo, que seja, e bom;
exista boamente,
faça que, procure
por, tenda a, conte-me tudo,
e aqui eu soçobrava e
escapulia
e cada inclusão foi
eficaz
não menos que cada
exclusão;
vamos bravo, exista,
não se enrosque em si
mesmo em mim mesmo.
Pensava eu que o
mundo assim concebido
com esta super-queda
super-morte
o mundo assim contrafeito
fosse apenas um eu mal
incubado,
encontrava-me,
indigesto, devaneando mal
mal devaneado mal
pago
mas não você, belo,
não você “santo” e “santificado”
vá um pouco mais
além, de lado, de lado.
Faça com que (ex-des-res
etc.)-istir
e todas as outras
preposições conhecidas e
desconhecidas,
tenham alguma chance,
faça um pouco a bons
modos;
ainda há jogo na
engenhoca.
Adiante, belo, adiante.
Adiante, Münchausen.
Referência:
ZANZOTTO, Andrea. Al mondo. In: SMITH,
Lawrence R. (Editor and Translator). The
new italian poetry: 1945 to the present. A Bilingual Anthology: Italian -
English. Berkeley, CA: University of California Press, 1981. p. 214.
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