Neste poema, Ginsberg parece antever o que estava por vir na recente
história norte-americana – a ira incontida que se manifestou, pouco depois, no
conflito inglório no Vietnã, onde quase sessenta mil militares lá perderam a
vida.
Como grande parte, se não for a totalidade, da obra poética de Ginsberg tem
natureza autobiográfica, não duvidaria se ele, de fato, já houvesse visitado
todos os lugares que menciona abaixo, a saber, na Ásia, na África e na Europa.
Talvez haja sido tal visão ampliada do mundo que o tenha levado a ser
um das figuras mais proeminentes no combate ao imperialismo de seu próprio país
– e lançando mão, ora ora, de uma radical poesia, que conjuga experiências
espirituais expressivas, com manifestações da mais vulgar carnalidade.
J.A.R. – H.C.
Allen Ginsberg
(1926-1997)
Man’s Glory
Shines on top of
Mountains where Grey Stone monastery sits
& blinks at the
sky
There in Tangier in
Soco Chico there God’s Grammar Arabic
jabbers shoe-shine
Poverty beneath the ultra silent mosque
There in Venice
glittering in Canal Grande in Front of San
Giorgio Maggiore
Gondola’d to cream the fabulous tourist –
There in Mexico in
th’ Archaeologic Museum where Coatlique
Aztec Golgotha-head
Goddess clasps her snakes & skulls &
Grins –
There over Asia where
the desolate white Stupas blast into the
Buddhic Dome and the
Mandala of the stars shines down –
All over Europe where
the masses weep & faint in Wooden
Trains –
By Florence, by the
Windmills, all the churches singing
together
“We in the mountains
and downtown Pray that America
return to the Lamb” –
And the Great Boom of
the Cathedral at Seville, Granada
groaning,
Barcelona chanting
out the Crannies of Sagrada Familia
Long horns of
Montpellier, Milan screaming and San Marco
rocking in Venice
like a great golden calliope
“America, America,
under the elms in parks of Illinois, the Anger, the
Anger, Beware!”
August 1960
Veneza
(Edward William Cooke:
pintor inglês)
A Glória do Homem
Reluz no topo das
Montanhas onde o monastério da Pedra Cinzenta
está situado e esplende
no céu
Lá em Soco Chico,
Tânger, há os gárrulos da Gramática Árabe de
Deus e a Pobreza dos
engraxates sob a ultrassilenciosa mesquita
Ali em Veneza, em
meio ao brilho do Grande Canal em Frente à
Basílica de São Jorge
Maior, a Gôndola teve à nata o fabuloso
turista –
Acolá no México, no
Museu Arqueológico, encontra-se Coatlique,
a Deusa Asteca Cabeça
de Gólgota, a enlaçar suas serpentes e
crânios, com seu largo sorriso
Para além da Ásia
veem-se os desolados Stupas brancos irromperem
no Domo Búdico e a Mandala das estrelas cintilar –
Através de toda a
Europa as massas choram e desfalecem sobre
Comboios de Madeira –
Por Florença, pelos Moinhos de Vento, ali onde todas as igrejas
estão a cantar em
uníssono
“Nós, nas montanhas e
nos centros urbanos, Oramos para que a
América retorne ao Cordeiro” –
E o Grande Boom da
Catedral em Sevilha, Granada a se lamentar,
Barcelona entoando cânticos
para além das Gretas da Sagrada Família
Longos cornos de Montpellier,
Milão a estrilar e São Marco
balançando em Veneza
como uma grande calíope dourada
“América, América,
sob os olmos nos parques de Illinois, a Ira, a
Ira, Cuidado! ”
Agosto 1960
Referência:
GINSBERG, Allen. Man’s glory. In:
__________. Collected poems:
1947-1997. Kaddish and related Poems (1959-1960). New York, NY: HarperCollins
Publishers, 2007. p. 268. (First Harper Perennial Modern Classics Edition
Published 2007)
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