Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 14 de março de 2017

Allen Ginsberg - A Glória do Homem

Neste poema, Ginsberg parece antever o que estava por vir na recente história norte-americana – a ira incontida que se manifestou, pouco depois, no conflito inglório no Vietnã, onde quase sessenta mil militares lá perderam a vida.

Como grande parte, se não for a totalidade, da obra poética de Ginsberg tem natureza autobiográfica, não duvidaria se ele, de fato, já houvesse visitado todos os lugares que menciona abaixo, a saber, na Ásia, na África e na Europa.

Talvez haja sido tal visão ampliada do mundo que o tenha levado a ser um das figuras mais proeminentes no combate ao imperialismo de seu próprio país – e lançando mão, ora ora, de uma radical poesia, que conjuga experiências espirituais expressivas, com manifestações da mais vulgar carnalidade.

J.A.R. – H.C.

Allen Ginsberg
(1926-1997)

Man’s Glory

Shines on top of Mountains where Grey Stone monastery sits
& blinks at the sky
There in Tangier in Soco Chico there God’s Grammar Arabic
jabbers shoe-shine Poverty beneath the ultra silent mosque
There in Venice glittering in Canal Grande in Front of San
Giorgio Maggiore Gondola’d to cream the fabulous tourist –
There in Mexico in th’ Archaeologic Museum where Coatlique
Aztec Golgotha-head Goddess clasps her snakes & skulls &
Grins –
There over Asia where the desolate white Stupas blast into the
Buddhic Dome and the Mandala of the stars shines down –
All over Europe where the masses weep & faint in Wooden
Trains –
By Florence, by the Windmills, all the churches singing
together
“We in the mountains and downtown Pray that America
return to the Lamb” –
And the Great Boom of the Cathedral at Seville, Granada
groaning,
Barcelona chanting out the Crannies of Sagrada Familia
Long horns of Montpellier, Milan screaming and San Marco
rocking in Venice like a great golden calliope
“America, America, under the elms in parks of Illinois, the Anger, the
Anger, Beware!”

August 1960

Veneza
(Edward William Cooke: pintor inglês)

A Glória do Homem

Reluz no topo das Montanhas onde o monastério da Pedra Cinzenta
está situado e esplende no céu
Lá em Soco Chico, Tânger, há os gárrulos da Gramática Árabe de
Deus e a Pobreza dos engraxates sob a ultrassilenciosa mesquita
Ali em Veneza, em meio ao brilho do Grande Canal em Frente à
Basílica de São Jorge Maior, a Gôndola teve à nata o fabuloso
turista –
Acolá no México, no Museu Arqueológico, encontra-se Coatlique,
a Deusa Asteca Cabeça de Gólgota, a enlaçar suas serpentes e
crânios, com seu largo sorriso
Para além da Ásia veem-se os desolados Stupas brancos irromperem
no Domo Búdico e a Mandala das estrelas cintilar –
Através de toda a Europa as massas choram e desfalecem sobre
Comboios de Madeira –
Por Florença, pelos Moinhos de Vento, ali onde todas as igrejas
estão a cantar em uníssono
“Nós, nas montanhas e nos centros urbanos, Oramos para que a
América retorne ao Cordeiro” –
E o Grande Boom da Catedral em Sevilha, Granada a se lamentar,
Barcelona entoando cânticos para além das Gretas da Sagrada Família
Longos cornos de Montpellier, Milão a estrilar e São Marco
balançando em Veneza como uma grande calíope dourada
“América, América, sob os olmos nos parques de Illinois, a Ira, a
Ira, Cuidado!

Agosto 1960

Referência:

GINSBERG, Allen. Man’s glory. In: __________. Collected poems: 1947-1997. Kaddish and related Poems (1959-1960). New York, NY: HarperCollins Publishers, 2007. p. 268. (First Harper Perennial Modern Classics Edition Published 2007)

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