Reconhecendo que o trabalho a que se propôs um de seus amigos não vingou
ante o público, Yeats sugere-lhe que reconheça o malogro e se retire para
instâncias onde possa se expressar de modo comedido, sem deixar de ser
exultante.
Obviamente que o poeta irlandês não está sugerindo rendição uma vez transcorrido
apenas o primeiro embate, senão que cada um tem o dever de reconhecer quando a
luta por um determinado objetivo ultrapassou o limite do razoável. Afastar-se
da concorrência, buscando maior autoconhecimento e um roteiro alternativo para
a vida, pode ser a solução para atingir a luz no fim do túnel.
Reconhece-se o quão difícil é se conformar com os sofrimentos advindos
da rejeição, além das dúvidas que passam a revolutear sobre a qualidade do trabalho
desenvolvido e as capacidades de cada um.
Há casos em que, nada obstante, movido pela ira, por um desejo de provar
o contrário ou por outras razões, o ser humano vai aos seus limites e acaba por
atingir a excelência: resgato da memória a experiência levada ao cinema pelo
filme “Whiplash: Em Busca da Perfeição”, de 2014,
dirigido pelo cineasta Damien Chazelle, no qual um jovem baterista de jazz recorre às suas últimas forças, para se transformar no melhor de sua geração.
J.A.R. – H.C.
W. B. Yeats
(1865-1939)
To a Friend
whose Work has
come to Nothing
Now all the truth is out,
Be secret and take defeat
From any brazen throat,
For how can you compete,
Being honour bred, with one
Who, were it proved he lies,
Were neither shamed in his own
Nor in his neighbours’ eyes?
Bred to a harder thing
Than Triumph, turn away
And like a laughing string
Whereon mad fingers play
Amid a place of stone,
Be secret and exult,
Because of all things known
That is most
difficult.
In: “Responsibilities” (1914)
Jovem Acadêmico em seu Estudo
(Pieter Codde: pintor
holandês)
A um amigo cuja obra
deu em nada
Agora que se sabe
toda a verdade,
Seja reservado e
aceite a derrota
Enunciada por
qualquer insolente garganta,
Pois como pode você
competir,
Sendo instruído na
honra, com alguém
Que, a despeito da
prova de sua mentira,
Não sentiria vergonha
nem aos seus olhos
Tampouco aos olhos
dos vizinhos?
Habilitado para
tarefas mais árduas
Que o Triunfo, afaste-se,
E qual corda
prazenteira
Tangida por
desatinados dedos
Em meio a um lugar de
pedra,
Seja comedido e
exulte,
Porque de todas as
coisas conhecidas
Essa é a mais
difícil.
Referência:
YEATS, W. B. To a friend whose work has come to nothing. In: __________. The collected poems by W. B. Yeats.
Revised 2nd edition. Edited by Richard J. Finneran. New York, NY: Collier Books
− MacMillan Publishing Company, 1989. p. 109.
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