Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Kenneth Patchen - No Ano Novo

Este poema do norte-americano Kenneth Patchen, apareceu em seus “Poemas Recolhidos” (“Collected Poems”), publicado pela primeira vez em 1969, poucos anos antes do falecimento do poeta, em pleno momento conturbado da vida política dos EUA, então em guerra no Vietnã, conflito deveras questionado, tanto internacionalmente quanto no âmbito interno.

Percebe-se que Patchen não se recusa a descrever o quadro obscuro que constata, como se fosse imperioso atravessá-lo para poder atingir um foco rútilo e positivo ao seu final. Mas fica evidente que cabe aos intermediários desse trânsito promover badalos nos sinos novidadeiros.

J.A.R. – H.C.

Kenneth Patchen
(1911-1972)

At the New Year

In the shape of this night, in the still fall
of snow, Father
In all that is cold and tiny, these little birds
and children
In everything that moves tonight, the trolleys
and the lovers, Father
In the great hush of country, in the ugly noise
of our cities
In this deep throw of stars, in those trenches
where the dead are, Father
In all the wide land waiting, and in the liners
out on the black water
In all that has been said bravely, in all that is
mean anywhere in the world, Father
In all that is good and lovely, in every house
where sham and hatred are
In the name of those who wait, in the sound
of angry voices, Father
Before the bells ring, before this little point in time
has rushed us on
Before this clean moment has gone, before this night
turns to face tomorrow, Father
There is this high singing in the air
Forever this sorrowful human face in eternity’s window
And there are other bells that we would ring, Father
Other bells that we would ring.

Campanário de ‘Ivan, o Grande’
 (Aristarkh Lentulov: pintor russo)

No Ano Novo

Na aparência desta noite, na tranquila queda
da neve, Pai
Em tudo que é frio e diminuto, esses pequenos
pássaros e crianças
Em tudo o que se move esta noite, os bondes
e os amantes, Pai
No grande silêncio interiorano, do horrendo
barulho de nossas cidades
Neste descarte profundo de estrelas, nessas
trincheiras onde estão os mortos, Pai
Em toda a vastidão de terra a hibernar, e nos
barcos a vapor lançados em águas escuras
Em tudo o que se disse com ousadia, em tudo o
que é vil em qualquer parte do mundo, Pai
Em tudo o que é bom e amável, em cada casa
onde o ludíbrio e o ódio se encontram
Em nome daqueles que aguardam, sob os brados
de iradas vozes, Pai
Antes que os sinos badalem, antes que este breve
ponto no tempo haja se precipitado sobre nós
Antes que este claro momento tenha-se dissipado,
antes que esta noite torne-se amanhã, Pai
Há no ar esta intensa canção
Para sempre este pesaroso rosto humano
à janela da eternidade
E há outros sinos que deveríamos tocar, Pai
Outros sinos que deveríamos tocar.

Referência:

PATCHEN, Kenneth. At the new year. In: BENÉT, William Rose; AIKEN, Conrad (Eds.). An anthology of famous english and american poetry. New York, NY: Random House Inc., 1945. p. 919-920. (‘The Modern Library’)


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