Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 7 de janeiro de 2017

Frank O’Hara - Ave Maria

O’Hara é partidário de que se deva conceder mais liberdade às crianças, para que elas não venham a alimentar, em estágio ainda prematuro, ódios contra aqueles (ou aquelas) que lhes limitam os movimentos.

O poema é de 1964, e talvez fizesse algum sentido naquele momento, um instante imediatamente anterior ao da geração do “faça a paz, não faça a guerra” e dos “hippies”, das maiores liberdades sexuais em razão do aparecimento da pílula anticoncepcional, e por aí vai.

Nos dias de hoje, na era da internet, “tudo é permitido” às crianças, que, desse modo, usam e abusam das experiências as mais dissolutas – e pior, não guardam respeito a absolutamente ninguém, nem mesmo aos pais. Assim, os genitores serão os culpados quer não deem liberdade alguma aos rebentos, quer deem toda ela. “To be or not to be, that is the question” (rs).

J.A.R. – H.C.

Frank O’Hara
(1926-1966)

Ave Maria

Mothers of America
let your kids go to the movies!
get them out of the house so they won’t know what you’re up to
it’s true that fresh air is good for the body
but what about the soul
that grows in darkness, embossed by silvery images
and when you grow old as grow old you must
they won’t hate you
they won’t criticize you they won’t know
they’ll be in some glamorous country
they first saw on a Saturday afternoon or playing hookey
they may even be grateful to you
for their first sexual experience
which only cost you a quarter
and didn’t upset the peaceful home
they will know where candy bars come from
and gratuitous bags of popcorn
as gratuitous as leaving the movie before it’s over
with a pleasant stranger whose apartment is in the Heaven on Earth Bldg
near the Williamsburg Bridge
oh mothers you will have made the little tykes
so happy because if nobody does pick them up in the movies
they won’t know the difference
and if somebody does it’ll be sheer gravy
and they’ll have been truly entertained either way
instead of hanging around the yard
or up in their room
hating you
prematurely since you won’t have done anything horribly mean yet
except keeping them from the darker joys
it’s unforgivable the latter
so don’t blame me if you won’t take this advice
and the family breaks up
and your children grow old and blind in front of a TV set
seeing
movies you wouldn’t let them see when they were young

Mãe com filha
(Léon-Jean-Bazille Perrault: pintor francês)

Ave Maria

Mães da América
deixem os seus filhos ir ao cinema.
afastem-nos de casa para que não saibam o que vocês estão fazendo
é certo que o ar fresco faz bem ao corpo
mas o que ocorre com a alma que
cresce na escuridão, lavrada por imagens prateadas?
e quando vocês envelhecerem porque haverão de envelhecer
não serão o alvo do ódio deles
nem de sua crítica tampouco de seu juízo
eles estarão nalgum país glamouroso
que viram pela primeira vez num sábado à tarde ou ao evadirem-se das aulas
podem mesmo até ser gratos a vocês
por sua primeira experiência sexual
que terá custado a vocês apenas um quarto de dólar
e não desestabilizou a paz do lar
saberão eles de onde vêm as guloseimas
e os sacos gratuitos de pipoca
tão gratuitos quanto sair antes que o filme termine
com um agradável estranho cujo apartamento é no Céu na Av. Terra
próximo à Ponte Williamsburg
ó mães quanta felicidade terão permitido aos miúdos
porque se ninguém for buscá-los no cinema
não aprenderão a diferença
e se alguém o fizer será puro proveito
e seja como for terão efetivamente se entretido
em vez de vadiarem no pátio
ou até em seus quartos
alimentando o ódio contra vocês
prematuramente, uma vez que nada de terrivelmente maldoso vocês terão feito
exceto todavia mantê-los distantes das alegrias mais sombrias
o que de resto é imperdoável
assim que não me culpem se não adotarem este conselho
e a família se desintegrar
e os seus filhos ficarem velhos e cegos frente à televisão
assistindo
a filmes que não os deixavam ver quando jovens.

Referência:

O’HARA, Frank. Ave Maria. In: HOOVER, Paul (Ed.). A postmodern american poetry: a norton anthology. New York, NY: W. W. Norton & Company Inc., 1994. p. 126-127.

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