Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 28 de janeiro de 2017

Raul Bopp - Negro

Um poema que sumaria a saga do negro brasileiro, desde a África de suas origens até as senzalas da casa-grande. Um enredo que marca até hoje os seus descendentes, naquilo que não contam com igualdade de oportunidades para poderem progredir na vida.

Ou por outra: igualdade de oportunidades, sem igualdade no ponto de partida, torna-se um discurso vazio e hipócrita. Pois o governo privatizou a educação básica, deixando à míngua quem depende de escolas públicas do ensino fundamental e médio – de qualidade ultrainsatisfatória –, de forma que jamais os negros, a comporem a maioria dos pobres desta nação, chegarão em igualdade de condições no mercado de trabalho, quer público quer privado.

Por conseguinte, procuram-se negros na direção das empresas e empreendimentos brasileiros... São um infinitésimo percentual. Grassam eles nos grandes espaços urbanos favelizados das maiores capitais do país, conformando a paisagem indelével que os turistas vindos de outras paragens mais amenas são forçados a constatar de plano!

J.A.R. – H.C.

Raul Bopp
(1898-1984)

Negro

Pesa em teu sangue a voz de ignoradas origens.
As florestas guardaram na sombra o segredo da tua história.

A sua primeira inscrição em baixo-relevo
foi uma chicotada no lombo.

Um dia
atiraram-te no bojo de um navio negreiro.
E durante longas noites e noites
vieste escutando o rugido do mar
como um soluço no porão soturno.

O mar era um irmão da tua raça.

Uma madrugada
baixaram as velas do convés.
Havia uma nesga de terra e um porto.
Armazéns com depósitos de escravos
e a queixa dos teus irmãos amarrados em coleiras de ferro.

Principiou aí a sua história.

O resto,
o que ficou para trás,
o Congo, as florestas e o mar
continuam a doer na corda do urucungo. (*)

De: “Urucungo: poemas negros” (1932)

Capoeira
(Johann Moritz Rugendas: pintor alemão)

Nota:

(*) Instrumento musical africano.

Referência:

BOPP, Raul. Negro. In: __________. Seleta em prosa e verso. Organização, estudo e notas do Prof. Amariles Guimarães Hill. Rio de Janeiro, GB: Livraria José Olympio Editora; Brasília, DF: Instituto Nacional do Livro - Ministério da Educação e Cultura, 1975. p. 13. (Coleção “Brasil Moço”)

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