Éluard descreve idiossincraticamente a rua em que se encontra, rua vazia
de qualquer coisa, deserta, mais difícil de ser superada por um sábio do que
por um insano, se ambos estiverem expostos a semelhantes carências.
Sobre a rua, um céu “rosa e feliz”, respirando “beleza e saúde”, mas um
céu de outro lugar, a imperar em terra estrangeira, ou melhor, nesse mesmo
contemplado ermo em que o poeta sente fender o coração.
J.A.R. – H.C.
Paul Éluard
(1895-1952)
Ici
Une rue abandonnée
Une rue profonde et
nue
Où les fous ont moins
de peine
Que les sages à
pourvoir
Aux jours sans pain sans charbon
C’est une question de taille
Tant de sages pour un fou
Mais rien par delà l’immense
Majorité du bon sens
Un jour cru sans proportions
La rue comme une blessure
Qui ne se fermera pas
Le dimanche l’élargit
Le ciel est un ciel d’ailleurs
Roi d’un pays étranger
Un ciel rose un ciel heureux
Respirant beauté
santé
Sur la rue sans
avenir
Qui coupe mon coeur
en deux
Qui me prive de
moi-même
Dans la rue de rien
personne.
Dans: “Le dur désir de durer” (1946)
Rua em Auvers-sur-Oise
(Vincent van Gogh:
pintor holandês)
Aqui
Uma rua deserta
Uma rua profunda e
nua
Onde os loucos têm
menos problemas
Que os sábios para
subsistir
Aos dias sem pão nem
carvão
É uma questão de proporção
Tantos sábios para
cada louco
Mas nada além da
imensa
Maioria do bom senso
Um dia considerado
sem proporções
A rua como uma ferida
Que não cicatrizará
jamais
O domingo a expande
O céu é um céu de outro
lugar
Rei de um país
estrangeiro
Um céu rosa e feliz
Respirando beleza e
saúde
Sobre a rua sem
futuro
Que me corta o
coração em dois
Que me priva de mim
mesmo
Na rua do nada e de
ninguém.
Em: “O duro desejo de durar” (1946)
Referência:
ÉLUARD, Paul. Ici. In: __________. Œuvres complètes. v. II. Éditeurs
Marcelle Dumas et Lucien Scheler. Paris, FR: Gallimard, 1968. p. 81-82.
(“Bibliothèque de la Pléiade”)
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