Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 29 de janeiro de 2017

Czeslaw Milosz - À Senhora Professora em defesa da honra do gato e não só

Milosz, Nobel de Literatura em 1980, aborda neste seu poema a impropriedade de se outorgar aos animais os atributos da ação deliberadamente violenta, com valoração similar à aplicável aos seres humanos, conscientes do que fazem.

No domínio da natureza, até onde se sabe, valem as regras da cadeia alimentar, a qual, uma vez rompida, acaba por gerar desequilíbrios ecológicos: extingam-se todos os sapos e se verá o que há de acontecer com a população dos insetos. Acabem-se com os gatos e cobras e ter-se-á uma expansão da população de ratos. Crueldade nos animais? De fato, eles são indiferentes ao bem e ao mal. Caçam a presa para se alimentar... nada mais!

J.A.R. – H.C.

Czeslaw Milosz
(1911-2004)

Do Pani Profesor w obronie honoru kota
i nie tylko
(Z okazji artykułu “Przeciw okrucieństwu”
Marii Podrazy-Kwiatkowskiej)

Mój miły pomocnik, nieduży tygrysek,
Śpi słodko na biurku obok komputera
I nic nie wie, że Pani jego ród obraża.

Koty bawią się myszą czy półżywym kretem,
Myli się jednak Pani, to nie z okrucieństwa.
Po prostu widzą rzecz, która się rusza.

Bo jednak zważmy, że tylko świadomość
Umie na chwilę przenieść się w to Inne,
Współ-odczuć mękę i panikę myszy.

I tak jak kot, jest cała przyroda,
Obojętna niestety na zło i na dobro,
Obawiam się, że kryje się tutaj dylemat.

Historia naturalna ma swoje muzea.
Nie prowadźmy tam dzieci. Po co im potwory,
Ziemia gadów i płazów przez miliony lat?

Natura pożerająca, natura pożerana,
Dzień i noc czynna rzeźnia dymiąca od krwi.
I kto ją stworzył? Czyżby dobry bozia?

Tak, niewątpliwie, one są niewinne:
Pająki, modliszki, rekiny, pytony.
To tylko my mówimy: okrucieństwo.

Nasza świadomość i nasze sumienie
Samotne w bladym mrowisku galaktyk
Nadzieje pokładają w ludzkim Bogu.

Który nie może nie czuć i nie myśleć,
Który jest nam pokrewny i ciepłem i ruchem,
Bo Jemu, jak oznajmił, jesteśmy podobni.

Ale jeżeli tak, to lituje się
Nad każdą schwytaną myszą, skaleczonym ptakiem.
Wszechświat dla Niego jak Ukrzyżowanie.

Oto ile wynika z ataku na kota:
Teologiczny augustiański grymas,
Z którym chodzić po ziemi, wie Pani, jest trudno.

(1994)

Chuva, cidade, ele, ela e o gato...
(Justyna Kopania: artista polonesa)

À Senhora Professora em defesa da honra
do gato e não só
(Por ocasião do artigo “Contra a crueldade”
de Maria Podraza-Kwiatkowska)


Meu amável ajudante, pequeno tigrinho,
Dorme docemente sobre a mesa perto do computador
E sequer imagina que a Senhora está ofendendo sua linhagem.

Os gatos brincam com o rato ou a toupeira meio morta,
Mas a Senhora está enganada, não é por crueldade.
Eles simplesmente veem uma coisa que se mexe.

Pois é bom lembrar que só a consciência
Pode por um instante transferir-se para o Outro,
Com-partilhar a dor e o pânico do rato.

E assim como o gato, é toda a natureza,
Infelizmente indiferente ao mal e ao bem,
Receio que aqui se esconde um dilema.

A história natural tem seus museus.
Não levemos ali as crianças. Para que lhes mostrar os monstros,
A terra dos répteis e anfíbios por milhões de anos?

A natureza que devora, a natureza devorada,
Dia e noite aberto o matadouro de sangue.
E quem foi que o criou? Será um deus bonzinho?

Sim, sem dúvida, eles são inocentes:
As aranhas, os louva-a-deus, os tubarões, os pítons.
Só nós dizemos: crueldade.

O nosso saber e a nossa consciência
Solitários num pálido formigueiro de galáxias
Depositam suas esperanças num Deus humano.

Que não pode não sentir e não pensar,
Que nos é familiar, pelo calor e pelo movimento,
Porque a Ele, como declarou, somos semelhantes.

Mas sendo assim, ele se compadece
De cada rato pego, de cada pássaro ferido.
O universo é para Ele como a Crucificação.

Eis aí quanto resulta do ataque ao gato:
Um esgar teológico agostiniano,
Com o qual, a Senhora sabe, não é fácil andar na terra.

(1994)

Referência:

MILOSZ, Czeslaw. Do pani profesor w obronie honoru kota i nie tylko / À senhora professora em defesa da honra do gato e não só. Tradução de Henryk Siewierski e Marcelo Paiva de Souza. In: __________. Não mais. Edição bilíngue. Seleção, tradução e introdução de Henryk Siewierski e Marcelo Paiva de Souza. Brasília, DF: Editora da UnB, 2003. Em polonês: p. 104 e 106; em português: p. 105 e 107. (Coleção “Poetas do Mundo”)
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