Milosz, Nobel de Literatura em 1980, aborda neste seu poema a
impropriedade de se outorgar aos animais os atributos da ação deliberadamente
violenta, com valoração similar à aplicável aos seres humanos, conscientes do
que fazem.
No domínio da natureza, até onde se sabe, valem as regras da cadeia
alimentar, a qual, uma vez rompida, acaba por gerar desequilíbrios ecológicos:
extingam-se todos os sapos e se verá o que há de acontecer com a população dos
insetos. Acabem-se com os gatos e cobras e ter-se-á uma expansão da população
de ratos. Crueldade nos animais? De fato, eles são indiferentes ao bem e ao
mal. Caçam a presa para se alimentar... nada mais!
J.A.R. – H.C.
Czeslaw Milosz
(1911-2004)
Do Pani Profesor w obronie honoru kota
i nie tylko
(Z okazji artykułu “Przeciw
okrucieństwu”
Marii Podrazy-Kwiatkowskiej)
Mój miły pomocnik,
nieduży tygrysek,
Śpi słodko na biurku obok komputera
I nic nie wie, że Pani jego ród obraża.
Koty bawią się myszą czy
półżywym kretem,
Myli się jednak Pani, to nie z okrucieństwa.
Po prostu widzą rzecz, która się rusza.
Bo jednak zważmy, że tylko świadomość
Umie na chwilę przenieść się w
to Inne,
Współ-odczuć mękę i panikę
myszy.
I tak jak kot, jest cała przyroda,
Obojętna niestety na zło i na dobro,
Obawiam się, że kryje się tutaj dylemat.
Historia naturalna ma
swoje muzea.
Nie prowadźmy tam dzieci. Po co im potwory,
Ziemia gadów i płazów
przez miliony lat?
Natura pożerająca, natura pożerana,
Dzień i noc czynna rzeźnia dymiąca
od krwi.
I kto ją stworzył? Czyżby dobry bozia?
Tak, niewątpliwie, one są niewinne:
Pająki, modliszki,
rekiny, pytony.
To tylko my mówimy: okrucieństwo.
Nasza świadomość i nasze sumienie
Samotne w bladym
mrowisku galaktyk
Nadzieje pokładają w ludzkim Bogu.
Który nie może nie czuć i nie myśleć,
Który jest nam pokrewny i ciepłem i ruchem,
Bo Jemu, jak oznajmił, jesteśmy podobni.
Ale jeżeli tak, to
lituje się
Nad każdą schwytaną myszą, skaleczonym
ptakiem.
Wszechświat dla Niego
jak Ukrzyżowanie.
Oto ile wynika z
ataku na kota:
Teologiczny augustiański grymas,
Z którym chodzić po
ziemi, wie Pani, jest trudno.
(1994)
Chuva, cidade, ele, ela e o gato...
(Justyna Kopania:
artista polonesa)
À Senhora Professora em defesa da honra
do gato e não só
(Por ocasião do
artigo “Contra a crueldade”
de Maria
Podraza-Kwiatkowska)
Meu amável ajudante,
pequeno tigrinho,
Dorme docemente sobre
a mesa perto do computador
E sequer imagina que
a Senhora está ofendendo sua linhagem.
Os gatos brincam com
o rato ou a toupeira meio morta,
Mas a Senhora está
enganada, não é por crueldade.
Eles simplesmente veem
uma coisa que se mexe.
Pois é bom lembrar
que só a consciência
Pode por um instante
transferir-se para o Outro,
Com-partilhar a dor e
o pânico do rato.
E assim como o gato,
é toda a natureza,
Infelizmente
indiferente ao mal e ao bem,
Receio que aqui se
esconde um dilema.
A história natural
tem seus museus.
Não levemos ali as
crianças. Para que lhes mostrar os monstros,
A terra dos répteis e
anfíbios por milhões de anos?
A natureza que
devora, a natureza devorada,
Dia e noite aberto o
matadouro de sangue.
E quem foi que o
criou? Será um deus bonzinho?
Sim, sem dúvida, eles
são inocentes:
As aranhas, os
louva-a-deus, os tubarões, os pítons.
Só nós dizemos:
crueldade.
O nosso saber e a
nossa consciência
Solitários num pálido
formigueiro de galáxias
Depositam suas
esperanças num Deus humano.
Que não pode não
sentir e não pensar,
Que nos é familiar,
pelo calor e pelo movimento,
Porque a Ele, como
declarou, somos semelhantes.
Mas sendo assim, ele
se compadece
De cada rato pego, de
cada pássaro ferido.
O universo é para Ele
como a Crucificação.
Eis aí quanto resulta
do ataque ao gato:
Um esgar teológico
agostiniano,
Com o qual, a Senhora
sabe, não é fácil andar na terra.
(1994)
(1994)
Referência:
MILOSZ, Czeslaw. Do pani profesor w
obronie honoru kota i nie tylko / À senhora professora em defesa da honra do
gato e não só. Tradução de Henryk Siewierski e Marcelo Paiva de Souza. In:
__________. Não mais. Edição
bilíngue. Seleção, tradução e introdução de Henryk Siewierski e Marcelo Paiva
de Souza. Brasília, DF: Editora da UnB, 2003. Em polonês: p. 104 e 106; em
português: p. 105 e 107. (Coleção “Poetas do Mundo”)
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