Um poema surpreendente do autor tcheco, um criador que se pergunta sobre
o que será de Deus sem a sua presença. Deus enquanto alteridade, cujo
significado expressa-se na mente do poeta, que, sendo finito, empresta finitude
à própria ideia de Deus.
Mas... e se pensarmos de modo diferente? Se houver divindade no cerne do
espírito humano, não seríamos uns divinos criadores, expressando, a
cada ação que promovemos, a sublime magnificência que há em cada um de nós?!
J.A.R. – H.C.
Rainer Maria Rilke
(1875-1926)
Was wirst du
tun, Gott, wenn ich sterbe?
Was wirst du tun, Gott, wenn ich sterbe?
Ich bin dein Krug (wenn ich zerscherbe?)
Ich bin dein Trank (wenn ich verderbe?)
Bin dein Gewand und dein Gewerbe
mit mir verlierst du deinen Sinn.
Nach mir hast du kein Haus, darin
dich Worte, nah und warm, begrüßen.
Es fällt von deinen müden Füßen
die Samtsandale, die ich bin.
Dein großer Mantel läßt dich los.
Dein Blick, den ich mit meiner Wange
warm, wie mit einem Pfühl, empfange,
wird kommen, wird mich suchen, lange -
und legt beim Sonnenuntergange
sich fremden Steinen in den Schoß.
Was wirst du tun, Gott? Ich bin bange.
In: “Stundenbuch” (1905)
Camelo pelo Fundo de uma Agulha
(Vladimir Kush:
artista russo)
Deus, que será de ti quando eu morrer?
Deus, que será de ti,
quando eu morrer?
Eu sou teu cântaro (e
se me romper?)
A tua água (e se me
corromper?)
Sou teu agasalho, sou
teu afazer.
Vai comigo o
significado teu.
Não tens mais sem mim
aquela casa, Deus,
que com quentes
palavras te acolhia.
Perdem teus pés
exaustos as macias
sandálias: também
elas eram eu.
De ti desprende-se o
teu longo manto.
O teu olhar, que a
minha face, quente
coxim acolhe, virá
entrementes,
virá procurar-me
longamente
e deitar-se depois,
ao sol poente,
entre pedras
estranhas, nalgum canto.
Deus, que será de ti?
Tenho medo, tanto...
Em: “O Livro das Horas” (1905)
Referência:
RILKE, Rainer Maria. Was wirst du tun, Gott, wenn ich
sterbe? / Deus, que será de ti quando eu morrer? Tradução de José Paulo Paes.
In: __________. Poemas. 2. ed. São
Paulo, SP: Companhia das Letras, 2012. Em alemão: p. 64; em português: p. 65.
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