Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 8 de janeiro de 2017

Alan Dugan - Diário de sete dias

Com muito bom humor, o poeta norte-americano compendia as ocorrências quotidianas na vida de um cidadão comum – ele próprio –, massacrado em sua individualidade por uma rotina que não agrega qualquer valor à existência.

Um ‘modus vivendi’ mecanizado, estereotipado, que abole as experiências significativas de autorrealização, reservando ao cidadão nada mais que as ações higiênicas de Maslow: comer, beber, dormir e transar – e, na melhor das hipóteses, assistir ao que se passa na televisão, vale dizer, um obsedante fluxo de notícias manipuladoras... Haverá “cura” para tais externalidades da sociedade de consumo?

J.A.R. – H.C.

Pequena Resenha sobre
o Autor e sua Obra
(WANDERLEY, 1992, p. 247)

Nascido em Brooklin, em 1923, Dugan vive em Nova York e já teve diversos livros de poesia premiados. Recebeu em 1962 o prêmio Pulitzer. O próprio poeta se declara cansado da eloquência e sua poesia realmente se evidencia despojada de ornamentos e rebarbas. Em 1966, Dugan se manifestaria como poeta em processo de situação política, acrescentando a sua afirmativa que sua linha de trabalho e pensamento atuais poderia mesmo vir a ser “pessoalmente perigosa” para ele. Este Diário de sete dias dá bem uma ideia da rotina da cidade grande e das ameaças de vazio que rondam o homem moderno. [Dugan faleceu em 3 de setembro de 2003]

Alan Dugan
(1923-2003)

On a seven-day diary

Oh I got up and went to work
and worked and came back home
and ate and talked and went to sleep.
Then I got up and went to work
and worked and came back home
from work and ate and slept.
Then I got up and went to work
and worked and came back home
and ate and watched a show and slept.
Then I got up and went to work
and worked and came back home
and ate steak and went to sleep.
Then I got up and went to work
and worked and came back home
and ate and fucked and went to sleep.
Then it was Saturday, Saturday, Saturday!
Love must be the reason for the week!
We went shopping! I saw clouds!
The children explained everything!
I could talk about the main thing!
What did I drink on Saturday night
that lost the first, best half of Sunday?
The last half wasn’t worth this “word.”
Then I got up and went to work
and worked and came back home
from work and ate and went to sleep,
refreshed but tired by the weekend.

Homens no Trabalho
(Steve Huston: artista norte-americano)

Diário de sete dias

Ah, eu me levantei e fui para o trabalho
E trabalhei e voltei para casa
e comi e conversei e fui dormir.
Então me levantei e fui para o trabalho
e trabalhei e voltei para casa
do trabalho e comi e dormi.
Então me levantei e fui para o trabalho
e trabalhei e voltei para casa
e comi e vi televisão e dormi.
Então me levantei e fui para o trabalho
e trabalhei e voltei para casa
e comi bife e dormi.
Então me levantei e fui para o trabalho
e trabalhei e voltei para casa
e comi e trepei e dormi.
E então era sábado, sábado, sábado!
O amor deve dar sentido à semana.
Fomos às compras! Vi nuvens!
As crianças explicavam tudo!
Eu podia falar do principal!
Que bebi no sábado à noite
que me fez perder a primeira, a melhor metade do
domingo?
A segunda metade não foi digna desse nome.
Então me levantei e fui para o trabalho
e trabalhei e voltei para casa
do trabalho e comi e dormi
renovado, porém cansado do fim de semana.

Referência:

DUGAN, Alan. On a seven-day diary / Diário de sete dias. Tradução de Jorge Wanderley. In: WANDERLEY, Jorge (Seleção, tradução e notas). Antologia da nova poesia norte-americana. Edição bilíngue. Rio de Janeiro, RJ: Civilização Brasileira, 1992. Em inglês: p. 248 e 250; em português: p. 249 e 251.

Nenhum comentário:

Postar um comentário