Com muito bom humor, o poeta norte-americano compendia as ocorrências
quotidianas na vida de um cidadão comum – ele próprio –, massacrado em sua
individualidade por uma rotina que não agrega qualquer valor à existência.
Um ‘modus vivendi’ mecanizado, estereotipado, que abole as experiências
significativas de autorrealização, reservando ao cidadão nada mais que as ações
higiênicas de Maslow: comer, beber, dormir e transar – e, na melhor das hipóteses,
assistir ao que se passa na televisão, vale dizer, um obsedante fluxo de notícias
manipuladoras... Haverá “cura” para tais externalidades da sociedade de
consumo?
J.A.R. – H.C.
Pequena Resenha sobre
o Autor e sua Obra
(WANDERLEY, 1992, p.
247)
Nascido em Brooklin,
em 1923, Dugan vive em Nova York e já teve diversos livros de poesia premiados.
Recebeu em 1962 o prêmio Pulitzer. O próprio poeta se declara cansado da eloquência
e sua poesia realmente se evidencia despojada de ornamentos e rebarbas. Em
1966, Dugan se manifestaria como poeta em processo de situação política,
acrescentando a sua afirmativa que sua linha de trabalho e pensamento atuais
poderia mesmo vir a ser “pessoalmente perigosa” para ele. Este Diário de sete
dias dá bem uma ideia da rotina da cidade grande e das ameaças de vazio que
rondam o homem moderno. [Dugan faleceu em 3 de setembro de 2003]
Alan Dugan
(1923-2003)
On a seven-day diary
Oh I got up and went to work
and worked and came back home
and ate and talked and went to sleep.
Then I got up and went to work
and worked and came back home
from work and ate and slept.
Then I got up and went to work
and worked and came back home
and ate and watched a show and slept.
Then I got up and went to work
and worked and came back home
and ate steak and went to sleep.
Then I got up and went to work
and worked and came back home
and ate and fucked and went to sleep.
Then it was Saturday, Saturday, Saturday!
Love must be the reason for the week!
We went shopping! I saw clouds!
The children explained everything!
I could talk about the main thing!
What did I drink on Saturday night
that lost the first, best half of Sunday?
The last half wasn’t worth this “word.”
Then I got up and went to work
and worked and came back home
from work and ate and went to sleep,
refreshed but tired by the weekend.
Homens no Trabalho
(Steve Huston: artista
norte-americano)
Diário de sete
dias
Ah, eu me levantei e
fui para o trabalho
E trabalhei e voltei
para casa
e comi e conversei e
fui dormir.
Então me levantei e
fui para o trabalho
e trabalhei e voltei
para casa
do trabalho e comi e
dormi.
Então me levantei e
fui para o trabalho
e trabalhei e voltei
para casa
e comi e vi televisão
e dormi.
Então me levantei e
fui para o trabalho
e trabalhei e voltei
para casa
e comi bife e dormi.
Então me levantei e
fui para o trabalho
e trabalhei e voltei
para casa
e comi e trepei e
dormi.
E então era sábado,
sábado, sábado!
O amor deve dar
sentido à semana.
Fomos às compras! Vi
nuvens!
As crianças
explicavam tudo!
Eu podia falar do
principal!
Que bebi no sábado à
noite
que me fez perder a
primeira, a melhor metade do
domingo?
A segunda metade não
foi digna desse nome.
Então me levantei e
fui para o trabalho
e trabalhei e voltei
para casa
do trabalho e comi e
dormi
renovado, porém
cansado do fim de semana.
Referência:
DUGAN, Alan. On a seven-day diary / Diário de sete dias. Tradução de Jorge Wanderley.
In: WANDERLEY, Jorge (Seleção, tradução e notas). Antologia da nova poesia norte-americana. Edição bilíngue. Rio de
Janeiro, RJ: Civilização Brasileira, 1992. Em inglês: p. 248 e 250; em
português: p. 249 e 251.
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