Oswald de Andrade lança mão de paródia para extrair e reelaborar um
famoso trecho da carta de Caminha ao rei de Portugal, dando-lhe ciência da
descoberta de novas terras. Ali onde o escrivão apenas se refere às jovens e
inocentes índias que passeavam à sua volta, Oswald coloca outras jovens, mas já
não tão “inocentes”!
Reporta-se ele às garotas de programa “rodando bolsinha” nas imediações
de uma estação de trem. E se não for demais considerar todas as inferências
extraíveis do texto do poeta, para se poder ver tudo o ali se descreve, só
estando elas... nuas como as índias descritas por Caminha. Seria o calor
excessivo?! (rs).
J.A.R. – H.C.
Oswald de Andrade
(1890-1954)
Carta de Caminha
(Caminha descreve o que
à sua frente se passa)
Ali andavam entre
eles [os índios]
três ou quatro moças,
bem moças bem
gentis, com cabelos
muito pretos e
compridos pelas
espáduas, e suas
vergonhas tão altas,
tão saradinhas e tão
limpas das cabeleiras
que, de as muito
bem olharmos, não
tínhamos nenhuma
vergonha.
Desembarque de Cabral em Porto Seguro
(Oscar Pereira da
Silva: pintor brasileiro)
As meninas da gare
Eram três ou quatro
moças
bem moças e bem
gentis
Com cabelos mui
pretos
pelas espáduas
E suas vergonhas tão
altas
e tão saradinhas
Que de nós as muito
bem olharmos
Não tínhamos nenhuma
vergonha
Em: “Pau-Brasil: História do Brasil -
Pero Vaz de Caminha” (1925)
Referências:
ANDRADE, Oswald de. As meninas da gare.
In: __________. Obras completas. VII. Poesias reunidas. 3. ed. Rio de Janeiro, GB: Civilização Brasileira; Brasília, DF: Instituto Nacional do Livro / Ministério da Educação e Cultura, 1972. p. 18.
CAMINHA, Pero Vaz de. Carta ao El-Rei D. Manuel. Disponível neste
endereço. Vide p. 5. Acesso em: 12 jan. 2017.
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