Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Oswald de Andrade - As meninas da gare

Oswald de Andrade lança mão de paródia para extrair e reelaborar um famoso trecho da carta de Caminha ao rei de Portugal, dando-lhe ciência da descoberta de novas terras. Ali onde o escrivão apenas se refere às jovens e inocentes índias que passeavam à sua volta, Oswald coloca outras jovens, mas já não tão “inocentes”!

Reporta-se ele às garotas de programa “rodando bolsinha” nas imediações de uma estação de trem. E se não for demais considerar todas as inferências extraíveis do texto do poeta, para se poder ver tudo o ali se descreve, só estando elas... nuas como as índias descritas por Caminha. Seria o calor excessivo?! (rs).

J.A.R. – H.C.

Oswald de Andrade
(1890-1954)

Carta de Caminha

(Caminha descreve o que
à sua frente se passa)

Ali andavam entre eles [os índios]
três ou quatro moças, bem moças bem
gentis, com cabelos muito pretos e
compridos pelas espáduas, e suas
vergonhas tão altas, tão saradinhas e tão
limpas das cabeleiras que, de as muito
bem olharmos, não tínhamos nenhuma
vergonha.

Desembarque de Cabral em Porto Seguro
(Oscar Pereira da Silva: pintor brasileiro)

As meninas da gare

Eram três ou quatro moças
bem moças e bem gentis
Com cabelos mui pretos
pelas espáduas
E suas vergonhas tão altas
e tão saradinhas
Que de nós as muito bem olharmos
Não tínhamos nenhuma vergonha

Em: “Pau-Brasil: História do Brasil -
Pero Vaz de Caminha” (1925)

Referências:

ANDRADE, Oswald de. As meninas da gare. In: __________. Obras completas. VII. Poesias reunidas. 3. ed. Rio de Janeiro, GB: Civilização Brasileira; Brasília, DF: Instituto Nacional do Livro / Ministério da Educação e Cultura, 1972. p. 18.

CAMINHA, Pero Vaz de. Carta ao El-Rei D. Manuel. Disponível neste endereço. Vide p. 5. Acesso em: 12 jan. 2017.

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