Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Allen Ginsberg - Fyodor

Ginsberg recorda, neste pequeno poema, o quanto a soturna literatura de Dostoiévski o assombrava, num momento em que pouco o lera: em sua cabeça de guri, quantas premonições assomaram, mercê da notoriedade que cerca o nome do russo.

No momento em que redige o poema, já muito mais íntimo da obra daquele autor, ousa chamá-lo apenas por “Dusty”, que em inglês significa “empoeirado”, como se sobre os seus escritos já houvesse se precipitado o fardo do tempo.

J.A.R. – H.C.

Allen Ginsberg
(1926-1997)

Fyodor

The death’s head of realism
and superhuman iron mask
that gapes out of The Possessed, (*)
sometimes: Dostoievski.
My original version of D.
before I read him, as the dark
haunted-house man, wild, aged,
spectral Russian. I call him
Dusty now but he is
Dostoyevsky. What premonitions
I had as a child.

Paterson, June 1949

Retrato de Dostoyevsky
(Vasily Perov: pintor russo)

Fyodor

O cabeça do realismo da morte
e a máscara de ferro sobre-humana
que, algumas vezes, se escancara
em Os Possessos: Dostoievski.
Assim era a minha versão original de D.
antes de eu lê-lo, como o homem
da soturna casa-assombrada, indômito, alquebrado,
espectral Russo. Eu agora o chamo
Dusty, mas ele de fato é
Dostoyevsky. Quantas premonições
eu tive quando criança.

Paterson, Junho 1949

Nota:

(*) Trata-se do romance “Os Possessos”, que, em tradução mais recente de Paulo Bezerra para a Editora 34, recebeu o título de “Os Demônios”.

Referência:

GINSBERG, Allen. Fyodor. In: __________. Collected poems: 1947-1985. 2nd. ed. London, EN: Penguin Books, 1995. p. 32.

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