Ginsberg recorda, neste pequeno poema, o quanto a soturna literatura de Dostoiévski
o assombrava, num momento em que pouco o lera: em sua cabeça de guri, quantas
premonições assomaram, mercê da notoriedade que cerca o nome do russo.
No momento em que redige o poema, já muito mais íntimo da obra daquele
autor, ousa chamá-lo apenas por “Dusty”, que em inglês significa “empoeirado”,
como se sobre os seus escritos já houvesse se precipitado o fardo do tempo.
J.A.R. – H.C.
Allen Ginsberg
(1926-1997)
Fyodor
The death’s head of realism
and superhuman iron mask
that gapes out of The Possessed, (*)
sometimes: Dostoievski.
My original version of D.
before I read him, as the dark
haunted-house man, wild, aged,
spectral Russian. I call him
Dusty now but he is
Dostoyevsky. What premonitions
I had as a child.
Paterson, June 1949
Retrato de Dostoyevsky
(Vasily Perov: pintor
russo)
Fyodor
O cabeça do realismo
da morte
e a máscara de ferro
sobre-humana
que, algumas vezes, se
escancara
em Os Possessos: Dostoievski.
Assim era a minha versão original
de D.
antes de eu lê-lo, como
o homem
da soturna
casa-assombrada, indômito, alquebrado,
espectral Russo. Eu
agora o chamo
Dusty, mas ele de
fato é
Dostoyevsky. Quantas
premonições
eu tive quando
criança.
Paterson, Junho 1949
Nota:
(*) Trata-se do romance “Os Possessos”,
que, em tradução mais recente de Paulo Bezerra para a Editora 34, recebeu o
título de “Os Demônios”.
Referência:
GINSBERG, Allen. Fyodor. In: __________. Collected poems: 1947-1985.
2nd. ed. London, EN: Penguin Books, 1995. p. 32.
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