Encontrei o poema abaixo numa pequena antologia poética produzida por um
colégio localizado em Estrasburgo, cujo nome, “François Truffaut”, faz homenagem
ao grande diretor de cinema francês.
Christian Poslaniec, o seu autor, é um escritor especializado em
literatura infantil e juvenil, podendo tal faceta ser constatada nos versos a
seguir transcritos: o poeta imagina-se como um poema escrito por um infante, resultante
de experiências visuais, táteis, olfativas e auditivas, autênticos “buquês de
emoções, lotes de sensações, verdadeiras, vivenciadas”, matéria-prima
indispensável à boa poesia!
J.A.R. – H.C.
Christian Poslaniec
(n. 1944)
Leçon de poésie
Si j’étais un poème
Ecrit par un enfant,
Je creuserai des
trous dans les mémoires fortes
Pour regarder à
l’intérieur,
Pour en connaître la
couleur.
Puis je caresserais
Les pattes des matous,
Le bec des hirondelles,
Le poli des cailloux,
Le rugueux des moustaches,
Pour voir comment ça fait.
J’écouterais longtemps tout ce qui fait du bruit,
Le froissement des feuilles,
La craie sur le tableau,
Le cliquetis des clés
Qui ouvrent les
mystères,
Les pas sur les
pavés.
Je fourrerais mon nez partout où ça sent drôle,
Partout où ça sent bon,
Et même où ça ne sent
Ni l’oeillet ni la rose.
Il me faudrait tout ça pour qu’un enfant m’écrive
Et me nomme poème.
Des bouquets d’émotions,
Des tas de sensations,
Véritables,
Vécues.
Après, il chercherait
des mots pour vous le dire.
O Farfalhar das Folhas no Outono
(Sergey Zhiboedov:
artista russo)
Lição de poesia
Se eu fosse um poema
Escrito por uma
criança,
Escavaria fendas em
memórias indeléveis
Para perscrutar o
interior,
E lá encontrar a cor.
Depois acariciaria
As patas dos gatos,
O bico das
andorinhas,
O brunido dos seixos,
O áspero dos bigodes,
Para sentir o efeito que
provocam.
Escutaria por muito
tempo tudo o que faz ruído,
O farfalhar das
folhas,
O giz sobre a lousa,
O estrépito das
teclas
Que desatam os
mistérios,
Os passos sobre os
calçamentos.
Meteria meu nariz onde
houvesse um cheiro esquisito,
Em toda parte com
odor agradável,
E mesmo onde não houvesse
perfume
Nem de cravo nem de
rosa.
E levaria tudo isso
para que uma criança me redija
E me nomeie poema.
Buquês de emoções,
Lotes de sensações,
Verdadeiras,
Vivenciadas.
Depois, ela
procuraria por palavras para lhe contar.
Referência:
POSLANIEC, Christian. Leçon de poésie. In: DUREL, Florent et al. Petite anthologie poétique. Strasbourg, FR: Collège
François Truffaut, 2011. p. 10. Disponível neste endereço.
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