Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 28 de junho de 2016

Jascha Kessler - Uma Natureza-Morta

Como se fosse o descritivo de uma tela, uma natureza-morta, Kessler, poeta e professor norte-americano, retrata neste poema situações que poderiam ocorrer no curso do relacionamento com sua amada, estando ambos separados por suas respectivas rotinas.

Ela, em casa, parando em frente ao espelho e tocando os lábios. Antes, comprara frutas e as colocara sobre a mesa, para que ambos as contemplassem, até o completo amadurecimento. Mais tarde, no transcorrer da noite regada a vinho, imagina uma profusão de palavras transformadoras, sem que jamais tenham deixado de retornar às suas próprias origens...

J.A.R. – H.C.

Jascha Kessler
(n. 1929)

A Still Life

There was a feeling, I know,
as if you had bought some fruit
and put it on the table
where we could watch it ripen:
apples, pears, and oranges,
figs and a few bananas −
the hearts of sweetness, and flies.

Suppose I had not come home,
suppose you’d forgotten me,
or grown tired of this page
as the light began to fade?
I see you closing windows,
or pausing at the mirror −
I see you touching your lips.

It is here, you whispered, here
and nowhere else that it was;
like the music of traffic
in our terrible city
it must be known to be heard −
and yet nothing is harder
than to listen to one’s self.

There is the wine in the glass,
and the long evening drinks it;
there were words we waited for,
and they changed us like our lives;
but the night needs only night −
so that, being what we are,
we turn to our beginnings.

Natureza-morta com maçãs,
uvas, pêssegos e pera
(Robert S. Dunning: pintor norte-americano)

Uma Natureza-Morta

Havia uma intuição, estou a par,
como se você tivesse comprado algumas frutas
e as colocado sobre a mesa
onde nós poderíamos vê-las amadurecer:
maçãs, peras e laranjas,
figos e umas tantas bananas –
os corações edulcorados, e moscas.

Suponha que eu não tenha retornado para casa,
suponha que você houvesse me esquecido
ou ficado cansada desta página,
como a luz começou a desvanecer-se?
Vejo você fechando as janelas,
ou parando frente ao espelho –
contemplo você tocando os próprios lábios.

É aqui, você sussurrou, aqui
e em nenhuma outro lugar;
tal como a música do tráfego
em nossa terrível cidade,
que deve ser conhecida para ser ouvida –
e no entanto nada é mais difícil
do que ouvir a si mesmo.

Há o vinho no cálice,
e a longa noite o sorve;
palavras havia pelas quais nós esperávamos;
e elas nos mudaram como a nossas vidas;
porém a noite carece apenas da noite –
de modo que, sendo o que somos,
retornamos às nossas origens.

Referência:

KESSLER, Jascha. A still life. In: THOMAS, Harry; LAVINE, Steven (Eds.). The hopwood anthology: five decades of american poetry. Ann Arbor (MI): University of Michigan Press, 1981. p. 84.

Nenhum comentário:

Postar um comentário