Como se fosse o descritivo de uma tela, uma natureza-morta, Kessler, poeta
e professor norte-americano, retrata neste poema situações que poderiam ocorrer
no curso do relacionamento com sua amada, estando ambos separados por suas
respectivas rotinas.
Ela, em casa, parando em frente ao espelho e tocando os lábios. Antes,
comprara frutas e as colocara sobre a mesa, para que ambos as contemplassem,
até o completo amadurecimento. Mais tarde, no transcorrer da noite regada a
vinho, imagina uma profusão de palavras transformadoras, sem que jamais tenham
deixado de retornar às suas próprias origens...
J.A.R. – H.C.
Jascha Kessler
(n. 1929)
A Still Life
There was a feeling, I know,
as if you had bought some fruit
and put it on the table
where we could watch it ripen:
apples, pears, and oranges,
figs and a few bananas −
the hearts of sweetness, and flies.
Suppose I had not come home,
suppose you’d forgotten me,
or grown tired of this page
as the light began to fade?
I see you closing windows,
or pausing at the mirror −
I see you touching your lips.
It is here, you whispered, here
and nowhere else that it was;
like the music of traffic
in our terrible city
it must be known to be heard −
and yet nothing is harder
than to listen to one’s self.
There is the wine in the glass,
and the long evening drinks it;
there were words we waited for,
and they changed us like our lives;
but the night needs only night −
so that, being what we are,
we turn to our beginnings.
Natureza-morta com maçãs,
uvas, pêssegos e pera
(Robert S. Dunning:
pintor norte-americano)
Uma Natureza-Morta
Havia uma intuição, estou
a par,
como se você tivesse
comprado algumas frutas
e as colocado sobre a
mesa
onde nós poderíamos
vê-las amadurecer:
maçãs, peras e
laranjas,
figos e umas tantas
bananas –
os corações
edulcorados, e moscas.
Suponha que eu não
tenha retornado para casa,
suponha que você
houvesse me esquecido
ou ficado cansada
desta página,
como a luz começou a
desvanecer-se?
Vejo você fechando as
janelas,
ou parando frente ao
espelho –
contemplo você
tocando os próprios lábios.
É aqui, você
sussurrou, aqui
e em nenhuma outro
lugar;
tal como a música do
tráfego
em nossa terrível
cidade,
que deve ser conhecida
para ser ouvida –
e no entanto nada é
mais difícil
do que ouvir a si
mesmo.
Há o vinho no cálice,
e a longa noite o
sorve;
palavras havia pelas
quais nós esperávamos;
e elas nos mudaram
como a nossas vidas;
porém a noite carece
apenas da noite –
de modo que, sendo o
que somos,
retornamos às nossas
origens.
Referência:
KESSLER, Jascha. A still life. In: THOMAS, Harry; LAVINE, Steven
(Eds.). The hopwood anthology: five
decades of american poetry. Ann Arbor (MI): University of Michigan Press, 1981.
p. 84.
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