Há algo de oculto, misterioso, impenetrável, inapreensível, elusivo nas
coisas simples que ocorrem a cada momento. E isso gera um clima emocional que o
poeta converte em sucessão de versos a refletir o colorido do mundo.
Nota-se neste poema a mesma dose de lirismo que, v.g., Drummond entabula
nas entrelinhas de “Cidadezinha qualquer”:
numa sequência de sentenças similares à de Reverdy, o mineiro sugere a rotina
do dia-a-dia pela repetição do termo “vai devagar”. Em ambas aparecem janelas
que bem representam o ponto focal de onde se avista o panorama com lentes poéticas.
J.A.R. – H.C.
Pierre Reverdy
(1889-1960)
Secret
La cloche vide
Les oiseaux morts
Dans la maison où tout s’endort
Neuf heures
La terre se tient immobile
On dirait que quelqu’un soupire
Les arbres ont l’air de sourire
L’eau tremble au bout de chaque feuille
Un nuage traverse la nuit
Devant la porte un homme chante
La fenêtre s’ouvre
sans bruit.
Cena interiorana na Irlanda
(John George Mulvany:
pintor irlandês)
Secreto
O sino vazio
Mortos os pássaros
Na casa onde tudo
adormece
Nove horas
A terra mantém-se
imóvel
Dir-se-ia que alguém suspira
As árvores parecem
sorrir
Treme a água na ponta de cada folha
Uma nuvem atravessa a noite
Frente à porta um
homem canta
A janela se abre sem ruído.
Referência:
REVERDY, Pierre. Secret. In: ARLAND, Marcel (Choix et commentaires). Anthologie de la poésie française. Nouvelle édition
revue et augmentée. Paris (FR): Éditions Stock, 1960. p. 804.
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