Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Pierre Reverdy - Secreto

Há algo de oculto, misterioso, impenetrável, inapreensível, elusivo nas coisas simples que ocorrem a cada momento. E isso gera um clima emocional que o poeta converte em sucessão de versos a refletir o colorido do mundo.

Nota-se neste poema a mesma dose de lirismo que, v.g., Drummond entabula nas entrelinhas de “Cidadezinha qualquer”: numa sequência de sentenças similares à de Reverdy, o mineiro sugere a rotina do dia-a-dia pela repetição do termo “vai devagar”. Em ambas aparecem janelas que bem representam o ponto focal de onde se avista o panorama com lentes poéticas.

J.A.R. – H.C.

Pierre Reverdy
(1889-1960)

Secret

La cloche vide
Les oiseaux morts
Dans la maison où tout s’endort
Neuf heures

La terre se tient immobile
On dirait que quelqu’un soupire
Les arbres ont l’air de sourire
L’eau tremble au bout de chaque feuille
Un nuage traverse la nuit

Devant la porte un homme chante
La fenêtre s’ouvre sans bruit.

Cena interiorana na Irlanda
(John George Mulvany: pintor irlandês)

Secreto

O sino vazio
Mortos os pássaros
Na casa onde tudo adormece
Nove horas

A terra mantém-se imóvel
Dir-se-ia que alguém suspira
As árvores parecem sorrir
Treme a água na ponta de cada folha
Uma nuvem atravessa a noite

Frente à porta um homem canta
A janela se abre sem ruído.

Referência:

REVERDY, Pierre. Secret. In: ARLAND, Marcel (Choix et commentaires). Anthologie de la poésie française. Nouvelle édition revue et augmentée. Paris (FR): Éditions Stock, 1960. p. 804.

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