Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 28 de maio de 2016

Wallace Stevens - Mundo sem Peculiaridade

No mundo sem peculiaridade de Stevens, se o poema expressar algo de pessoal do poeta, muito provavelmente abarca o tema de um relacionamento difícil com sua parceira, odiando e expressando frieza ao menor toque, de modo a revelar privações emocionais ou, até mesmo, de ordem sexual.

Ele é o filho inumano de uma Terra que, de fato, desconhece. Tudo o que, à sua volta, é expressão da natureza, torna-se explicável, sob tal perspectiva, somente em função de experiências humanas.

A mortalidade humana faz um paralelo com o ciclo da vida; a memória dos pais já falecidos com a “madureza rubra das folhas redondas”. E, ao fim, depois de um incomodado questionamento, o poema caminha em direção à aceitação das circunstâncias. Então, a Terra deixa de ser um lugar sem sentido, para revelar-se uma morada na qual todas as coisas vêm a se tornar um único ser, “seguro e verdadeiro”.

J.A.R. – H.C.

Wallace Stevens
(1879-1955)

World Without Peculiarity

The day is great and strong −
But his father was strong, that lies now
In the poverty of dirt.

Nothing could be more hushed than the way
The moon moves toward the night.
But what his mother was returns and cries on his breast.

The red ripeness of round leaves is thick
With the spices of red summer.
But she that he loved turns cold at his light touch.

What good is it that the earth is justified,
That it is complete, that it is an end,
That in itself it is enough?

It is the earth itself that is humanity...
He is the inhuman son and she,
She is the fateful mother, whom he does not know.

She is the day, the walk of the moon
Among the breathless spices and, sometimes,
He, too, is human and difference disappears

And the poverty of dirt, the thing upon his breast,
The hating woman, the meaningless place,
Become a single being, sure and true.

Homem e Mulher Contemplando a Lua
(Caspar David Friedrich: pintor alemão)

Mundo Sem Peculiaridade

Grande e forte é o dia –
Mas o seu pai era forte, aquele que agora jaz
Na pobreza da sujeira.

Nada pode ser mais silencioso do que o modo
Como a lua se move em direção à noite.
Porém o que sua mãe foi retorna e chora sobre o seu peito.

A madureza rubra das folhas redondas está repleta
Das especiarias do rubro verão.
Mas ela, a quem ele amou, torna-se fria ao seu leve toque.

Quão bom é que justificada esteja a Terra,
Que esteja completa, que seja um fim,
Que seja suficiente em si mesma?

É a própria Terra que é a humanidade...
Ele é o filho inumano e ela,
Ela é a fatídica mãe, a quem ele não conhece.

Ela é o dia, o percurso da lua
Entre as especiarias ofegantes e, às vezes,
Ele, também, é humano e a diferença se desvanece.

E a pobreza da sujeira, a coisa sobre o seu peito,
A detestável mulher, o lugar sem sentido,
Convertem-se num único ser, seguro e verdadeiro.

Referência:

STEVENS, Wallace. World without peculiarity. In: __________. The collected poems. Eleventh printing. New York, NY: Alfred A. Knopf Inc., feb.1971. p. 453-454.

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