O poeta carioca propõe um manifesto para um “modus vivendi” menos
adstrito a regras que cerceiem a espontaneidade das coisas, aberto aos fatos que
nos chegam gratuitamente, plenos de dons para os quais possamos abrir mão da soberania
de nossa racionalidade.
Assim, quem sabe, coincidências e sincronicidades poderiam manifestar-se
em nossas atividades, atividades essas, do mesmo modo, não mais arraigadamente
centradas em trabalho preso a lugares e tarefas a cumprir num intervalo de oito
horas, mas interlacadas com francos e eficazes descansos para estimular a
criatividade, de modo que o fogo da mente “nunca esfrie” e o coração seja capaz
de “passear os seus cavalos”.
J.A.R. – H.C.
Eucanaã Ferraz
(n. 1961)
Manifesto
Sim ao prazer sem
custo.
Acatar, beber,
dividir o bom
que venha feito o
sol, gratuito.
Quem sabe se o dom, o
sem-razão
e o sem-motivos
possam mais
do que exigimos. Nem
se duvide
do que é capaz a
coincidência
entre coisas. Nesse
mundo
em que gênios são
servos de si mesmos,
pratique-se o
descanso, para
que o fogo nunca
esteja frio
e o coração passeie
seus cavalos.
Aquarela
(Dimitra Milan:
pintora norte-americana)
Referência:
FERRAZ, Eucanaã. Manifesto. In: ANDRADE, Carlos Drummond et al. Verso livre: poemas. 1. ed. São
Paulo, SP: Boa Companhia, 2012. p. 104.
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