Neste muito conhecido soneto, Machado faz uma homenagem póstuma à sua
amada esposa Carolina, portuguesa de nascimento, com quem, durante uma longa lida
de convivência – foram 35 anos sob o mesmo teto –, não chegou a gerar filhos.
Não se nota no poema – até mesmo por sua temática mais austera – a sutil
ironia que o autor costuma empregar em seus escritos, senão os traços pungentes
de um coração em sofrimento, a conceber como prescritos quaisquer propostas de
vida futuras, vislumbre que, afinal, haveria de suceder, pois Machado faleceu
apenas quatro anos depois.
J.A.R. – H.C.
Machado de Assis
(1839-1908)
A Carolina
Querida! Ao pé do
leito derradeiro,
em que descansas
desta longa vida,
aqui venho e virei,
pobre querida,
trazer-te o coração
de companheiro.
Pulsa-lhe aquele
afeto verdadeiro
que, a despeito de
toda a humana lida,
fez a nossa
existência apetecida
e num recanto pôs um
mundo inteiro...
Trago-te flores –
restos arrancados
da terra que nos viu
passar unidos
e ora mortos nos
deixa e separados;
que eu, se tenho, nos
olhos mal feridos,
pensamentos de vida
formulados,
são pensamentos idos
e vividos.
Carolina Augusta Xavier de Novais
(1835-1904)
Referência:
ASSIS, Machado de. A Carolina. In:
PINTO, José Nêumanne (Seleção). Os cem
melhores poetas brasileiros do século. São Paulo, SP: Geração Editorial,
2001. p. 49.
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