Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Machado de Assis - A Carolina

Neste muito conhecido soneto, Machado faz uma homenagem póstuma à sua amada esposa Carolina, portuguesa de nascimento, com quem, durante uma longa lida de convivência – foram 35 anos sob o mesmo teto –, não chegou a gerar filhos.

Não se nota no poema – até mesmo por sua temática mais austera – a sutil ironia que o autor costuma empregar em seus escritos, senão os traços pungentes de um coração em sofrimento, a conceber como prescritos quaisquer propostas de vida futuras, vislumbre que, afinal, haveria de suceder, pois Machado faleceu apenas quatro anos depois.

J.A.R. – H.C.

Machado de Assis
(1839-1908)

A Carolina

Querida! Ao pé do leito derradeiro,
em que descansas desta longa vida,
aqui venho e virei, pobre querida,
trazer-te o coração de companheiro.

Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
que, a despeito de toda a humana lida,
fez a nossa existência apetecida
e num recanto pôs um mundo inteiro...

Trago-te flores – restos arrancados
da terra que nos viu passar unidos
e ora mortos nos deixa e separados;

que eu, se tenho, nos olhos mal feridos,
pensamentos de vida formulados,
são pensamentos idos e vividos.

Carolina Augusta Xavier de Novais
(1835-1904)

Referência:

ASSIS, Machado de. A Carolina. In: PINTO, José Nêumanne (Seleção). Os cem melhores poetas brasileiros do século. São Paulo, SP: Geração Editorial, 2001. p. 49.

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