A passagem que ora transcrevemos de
Schiller tem por tema um famoso dilema de natureza política, tantas vezes
analisado no domínio das ciências humanas, como no caso da obra “Igualdade e
Liberdade”, do italiano Norberto Bobbio, traduzida no Brasil pela Ediouro.
Com imagens fortes, o poeta alemão tornou-se famoso ao expressar os
ideais da espécie em seus poemas e peças, sempre a afirmar que liberdade não
vem sem o correspondente dever, tampouco a igualdade sem responsabilidade
compartilhada.
É notória, no excerto selecionado, a alusão aos horrores da Revolução
Francesa – o poema foi publicado em 1799 –, e, muito particularmente, às
mulheres, qualificadas pelo autor como “hienas”, a evidenciar uma visão ainda
marcadamente focada nos papéis a serem desempenhados pelo homem e pela mulher,
claro está, hoje obsoleta. Fosse ele se expressar desse modo nos dias que
correm, e as feministas iriam exigir-lhe o fígado! (rs).
J.A.R. – H.C.
(1759-1805)
Pintura do alemão Gerhard
von Kügelgen
Freiheit und
Gleichheit!
Freiheit und Gleichheit! hört man schallen,
Der ruhge Bürger greift zur Wehr,
Die Straßen füllen sich, die Hallen,
Und Würgerbanden ziehn umher,
Das werden Weiber zu Hyänen
Und treiben mit Entsetzen Scherz,
Noch zuckend, mit des Panthers Zähnen,
Zerreißen sie des
Feindes Herz.
Nichts Heiliges ist mehr, es lösen
Sich alle Bande frommer Scheu,
Der Gute räumt den Platz dem Bösen,
Und alle Laster walten frei.
Gefährlich ist's, den Leu zu wecken,
Verderblich ist des Tigers Zahn,
Jedoch der schrecklichste der Schrecken,
Das ist der Mensch in seinem Wahn.
Weh denen, die dem Ewigblinden
Des Lichtes Himmelsfackel leihn!
Sie strahlt ihm nicht, sie kann nur zünden
Und äschert Städt und Länder ein.
(Lauren Beisel:
artista norte-americana)
Liberdade e Igualdade!
Liberdade e
igualdade!, escuta-se ecoar;
O pacato cidadão
defende-se,
Enchem-se as ruas, os
mercados,
E bandos de
estranguladores surgem por toda volta;
Então as mulheres
tornam-se hienas
E agem apavorantes,
sarcásticas,
E ainda
contorcendo-se, com dentes de pantera,
Rasgam o coração do
inimigo.
Nada Santo o é mais,
desatam-se
Todos os laços do
piedoso temor,
O bem cede lugar ao
mal,
E todos os vícios
reinam livres.
Perigoso é acordar o
leão,
Destruidor é o dente
do tigre,
No entanto, o mais
terrível dos horrores,
É o homem no seu
desvario.
Ai daqueles que
emprestam ao eterno cego
O facho da luz
celestial!
Este não brilha para
ele, a luz tão somente queima
E torna em cinzas
cidades e países.
Referência:
SCHILLER, Friedrich. Freiheit und gleichheit! / Liberdade e
igualdade. (Excerto). In: __________. Das
lied von der glocke / A canção que vem do sino. Tradução de Maria Costa e
Theodorus Vreeswijk. Goiânia (GO): Composição Gráfica Walter Galvão / Arte
Maria Costa, jun. 1994. Em alemão: p. 19; em português: p. 9.
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