Neste apaixonado poema de amor, Cummings emprega a linguagem para
descrever, hábil e misteriosamente, a primavera a abrir a sua primeira flor,
metáfora por sua vez empregada de forma a esboçar a sensação de um coração franco a
relacionamentos mais íntimos.
As sensuais imagens do poema parecem estar mais voltadas a contornar a
distância emocional, em busca de aproximação da musa objeto de sua atenção, do
que figurar apelo a relacionamento sexual imediato. O sentimento do poeta,
portanto, revela transcendência no amor, algo ainda incognoscível, como
instância onde o poeta jamais esteve.
J.A.R. – H.C.
Edward Estlin Cummings
(1894-1962)
somewhere i
have never travelled
somewhere i have never travelled, gladly beyond
any experience, your eyes have their silence:
in your most frail gesture are things which enclose
me,
or which i cannot touch because they are too near
your slightest look easily will unclose me
though i have closed myself as fingers,
you open always petal by petal myself as Spring
opens
(touching skillfully, mysteriously) her first rose
or if your wish be to close me, i and
my life will shut very beautifully, suddenly,
as when the heart of this flower imagines
the snow carefully everywhere descending;
nothing which we are to perceive in this world
equals
the power of your intense fragility: whose texture
compels me with the colour of its countries,
rendering death and forever with each breathing
(i do not know what it is about you that closes
and opens; only something in me understands
the voice of your eyes is deeper than all roses)
nobody, not even the rain, has such small hands
Trancendental
(Dorina Costras: pintora
romena)
Onde jamais viajei
onde jamais viajei,
alegremente além
de qualquer
experiência, teus olhos têm o silêncio deles;
no teu gesto mais
frágil há coisas que me encerram
ou que não posso por
perto demais tocar...
o teu mais leve olhar
facilmente me descerra
embora como os dedos
eu me tenha cerrado,
sempre me abres
pétala por pétala como a primavera
abre (tocando-a
jeitosa, misteriosamente) sua primeira rosa
ou, se te aprouvesse
encerrar-me, eu
e minha vida nos
fecharíamos em beleza, subitamente,
como quando o coração
desta flor imagina
a neve cuidadosamente
por todo lado a tombar;
nada do que nos é
dado a perceber neste mundo se iguala
ao poder da tua
imensa fragilidade: cuja textura
me compele com a cor
das suas pátrias,
que me cedem a morte
e o sem fim a cada alento
(não sei o que vai em
ti que se fecha
e se entreabre;
apenas alguma coisa em mim entende
que a voz dos teus
olhos é mais funda que as rosas todas)
e ninguém, nem mesmo
a chuva, tem as mãos assim tão pequenas
Referências:
Em Inglês
CUMMINGS, E. E. somewhere i have never travelled. In: __________. Complete poems: 1904-1962. Edited by George James Firmage. New York, NY:
Liveright Publishing Corporation, 1991. p. 367.
Em Português
CUMMINGS, E. E. Onde jamais viajei.
Tradução de Paulo Mendes Campos. In: CAMPOS, Paulo Mendes. Os melhores poemas de Paulo Mendes Campos. Seleção de Guilhermino
Cesar. São Paulo, SP: Global, 1990. p. 204. (“Os Melhores Poemas”; v. 22)
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