Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 10 de maio de 2016

E. E. Cummings - Onde jamais viajei

Neste apaixonado poema de amor, Cummings emprega a linguagem para descrever, hábil e misteriosamente, a primavera a abrir a sua primeira flor, metáfora por sua vez empregada de forma a esboçar a sensação de um coração franco a relacionamentos mais íntimos.

As sensuais imagens do poema parecem estar mais voltadas a contornar a distância emocional, em busca de aproximação da musa objeto de sua atenção, do que figurar apelo a relacionamento sexual imediato. O sentimento do poeta, portanto, revela transcendência no amor, algo ainda incognoscível, como instância onde o poeta jamais esteve.

J.A.R. – H.C.

Edward Estlin Cummings
(1894-1962)

somewhere i have never travelled

somewhere i have never travelled, gladly beyond
any experience, your eyes have their silence:
in your most frail gesture are things which enclose me,
or which i cannot touch because they are too near

your slightest look easily will unclose me
though i have closed myself as fingers,
you open always petal by petal myself as Spring opens
(touching skillfully, mysteriously) her first rose

or if your wish be to close me, i and
my life will shut very beautifully, suddenly,
as when the heart of this flower imagines
the snow carefully everywhere descending;

nothing which we are to perceive in this world equals
the power of your intense fragility: whose texture
compels me with the colour of its countries,
rendering death and forever with each breathing

(i do not know what it is about you that closes
and opens; only something in me understands
the voice of your eyes is deeper than all roses)
nobody, not even the rain, has such small hands

Trancendental
(Dorina Costras: pintora romena)

Onde jamais viajei

onde jamais viajei, alegremente além
de qualquer experiência, teus olhos têm o silêncio deles;
no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram
ou que não posso por perto demais tocar...

o teu mais leve olhar facilmente me descerra
embora como os dedos eu me tenha cerrado,
sempre me abres pétala por pétala como a primavera
abre (tocando-a jeitosa, misteriosamente) sua primeira rosa

ou, se te aprouvesse encerrar-me, eu
e minha vida nos fecharíamos em beleza, subitamente,
como quando o coração desta flor imagina
a neve cuidadosamente por todo lado a tombar;

nada do que nos é dado a perceber neste mundo se iguala
ao poder da tua imensa fragilidade: cuja textura
me compele com a cor das suas pátrias,
que me cedem a morte e o sem fim a cada alento

(não sei o que vai em ti que se fecha
e se entreabre; apenas alguma coisa em mim entende
que a voz dos teus olhos é mais funda que as rosas todas)
e ninguém, nem mesmo a chuva, tem as mãos assim tão pequenas

Referências:

Em Inglês

CUMMINGS, E. E. somewhere i have never travelled. In: __________. Complete poems: 1904-1962. Edited by George James Firmage. New York, NY: Liveright Publishing Corporation, 1991. p. 367.

Em Português

CUMMINGS, E. E. Onde jamais viajei. Tradução de Paulo Mendes Campos. In: CAMPOS, Paulo Mendes. Os melhores poemas de Paulo Mendes Campos. Seleção de Guilhermino Cesar. São Paulo, SP: Global, 1990. p. 204. (“Os Melhores Poemas”; v. 22)

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